AGENDA CULTURAL

11.7.16

Se o ingresso da Expô de Araçatuba fosse gratuito

Hélio  Consolaro é pré-candidato a prefeito de Araçatuba, 2016*

Participei como secretário municipal de Cultura de Araçatuba por 07 anos da Expô Araçatuba, observando de perto a sua organização. Lá implantamos o Barracão Caipira, o Palco Araçá, o Barracão do Artesanato. Então, tenho um bom conhecimento de como funciona o evento. Não sou uma pessoa totalmente por fora, que está falando por ouvir falar.

O evento tem caráter público-privado. A área do recinto de exposições Clibas de Almeida Prado é uma concessão do Estado para o Sindicato Rural da Alta Noroeste, que é público, embora não seja governamental. A Prefeitura, às vezes menos, às vezes mais, é parceira. É privado porque há o agronegócio e  uma empresa de eventos (produtora) que dirige a parte artística e comercial, ambos lucram com a Expô. 

Pensei muito antes de escrever este artigo, porque o homem público, aquele que pretende dirigir a sua cidade, como eu, não pode vender ilusões. Depois de eleito, não consegue fazer aquilo que prometeu e se desmoraliza.

Em qualquer nível administrativo, seja público ou privado, não existe almoço grátis. Se alguém estiver comendo sem pagar, outro está pagando por ele. Não há milagre.

Antes de abordar os elementos componentes da Expô, colocarei as conclusões, porque o texto ficou longo e você, caro leitor, pode desistir da leitura. Assim, pelo menos, lê a síntese.

REIVINDICAÇÕES E MUDANÇAS

A atual administração municipal, 2009-2016), solicitou algumas mudanças, fez algumas intervenções à medida que comprava metros quadrados da Expô. Por exemplo, dar ingressos para uma noite aos assistidos da Secretaria Municipal de Assistência Social. Os idosos atendidos pela SMAS vão almoçar um dia e ficam por lá, assim acontece com as crianças. Chega-se a fazer até uma noite cujo preço é doar alimentos. Há um percentual dos ingressos que são distribuídos gratuitamente pela Prefeitura ao público, alvo da Secretaria Municipal de Assistência Social. 

Há gente que pede uma mudança no modelo da Expô – cobrar apenas para quem queira assistir aos shows. Segundo os organizadores, o preço do ingresso ficaria inacessível, porque atualmente todos os pagantes, gostando ou não do artista, assistindo ou não ao espetáculo pagam por ele.

Para baratear o ingresso, ou ficar quase de graça, há dois caminhos:

1.         A Prefeitura, através de suas secretarias, administrasse a Expô (menos a parte do agronegócio), mantendo os 10 dias, gastando horrores, como o que foi pago pela Prefeitura de Caruaru-PE, pagando mais de R$ 500 mil para Wesley Safadão.
2.         A Prefeitura, através de suas secretarias, diminuísse o evento para 03 dias e banca os artistas, com ingressos quase gratuitos. A Expô perde a sua grandiosidade turística, o seu glamour.
3.         Deixar como está, e a Prefeitura vai melhorando a parceria com a produtora, já existente, e vai tentando fazer da Expô um evento mais acessível a todos, menos caro, sem perder o seu glamour. Essa é a nossa proposta.


OS SEGMENTOS ENVOLVIDOS NA EXPÔ

Pensando assim, vamos analisar quais são os segmentos envolvidos na realização da Expô:
1.         agronegócio – que é o motivo de existir a Expô de Araçatuba. Antigamente, era um evento restrito aos fazendeiros. As pessoas do município iam ao Recinto de Exposições Clibas de Almeida Prado para ver animais bonitos. Esse setor não precisa de 10 dias, em três resolvriam o problema. Essa parte é dirigida pelo Sindicato Rural da Alta Noroeste – Siran. Os outros segmentos surgiram depois;

2.         empresa produtora da parte artística e comercial do evento -  terceirizada do Siran, já houve várias - foi ela que foi estendendo, estendendo a duração do evento, chegado ao formato atual de 10 dias. Quanto mais dias, mais variedade de artistas, mais diluição das despesas (as partes mais caras são montagem e desmontagem), contemplando vários gêneros populares e aumento do faturamento. Se a estrutura está montada para cinco ou 10 dias, há a diminuição de custos. Existe o faturamento pela venda de espaço a comerciantes para venda e exposição de produtos, como também estruturas luxuosas montadas para camarotes;


3.         artistas – os artistas que se apresentam na Expô são midiáticos, que estão na crista da onda, fazendo sucesso, portanto, seus shows são caros, porque hoje não se vendem mais discos. Não considero que a Prefeitura vá gastar milhões com eles.

4.         preço dos ingressos – como a meia entrada foi generalizada, a produtora joga a entrada inteira lá em cima. Na verdade, o preço real é a meia entrada. Podemos dizer que quase 80% das pessoas pagam meia entrada. Quem paga meia: professores, aposentados em geral, estudantes até de pós-graduação, idosos, participantes de programas sociais, deficientes físicos e seu acompanhante. Além disso, há a venda de pacotes e permanentes que barateia os ingressos;   


5.         comerciantes – há uma categoria de comércio especializado em eventos, principalmente exposições, que viaja de cidade em cidade, com trailers ou trabalhando em barracas. Atualmente, as empresas da cidade expõem menos na Expô, a participação já foi mais significativa. A maioria do comércio volante e de pequeno porte é forânea (de fora);

6.         preço das coisas lá dentro: a cerveja é tabelada, porque a produtora cobra para a marca ser exclusiva, isso encarece o produto. Como a locação de espaço é cara, encarece toda a venda, comer e beber, enfim, comprar na Expô fica muito caro. Nesse item, precisa haver uma conversa da Prefeitura com os organizadores;


  
7.         parque - nessa categoria, está o parque de diversões que cobra além do ingresso para que crianças se divirtam em seus brinquedos. Encarecendo ainda mais a visita das famílias ao local;  
  
8.         público – o segmento mais importante, hoje, da exposição, pois o evento se tornou um show de multidões. É desse  setor que as reclamações vêm com mais força, principalmente do preço dos ingressos. Há anos em que a reclamação se estende também à qualidade da grade artística;


9.         ambulantes do lado de fora – do lado de fora, há uma distribuição de espaços feito pelo Fundo Social de Solidariedade de Araçatuba, onde os produtos são mais baratos. Nesse espaço ficam os barrados do baile, que não conseguiram entrar. O Fundo cobra uma contribuição dos ambulantes;

10.    estacionamento – a própria empresa produtora explora espaços do recinto de exposições Clibas de Almeida Prado. No entorno, há também serviços de estacionamento de terceiros; 


11.    poder público – em décadas passadas, quem organizava a Expô era a Secretaria Estadual da Agricultura, que passou o recinto para o Siran. A Prefeitura de Araçatuba compra espaços para montar suas atividades durante a Exposição;

12.    segurança pública – recentemente a Polícia Militar deixou de fazer o policiamento interno do recinto, ficando na retaguarda. A produtora contrata empresa de segurança para cuidar disso, mas a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana organiza todo o trânsito no entorno do recinto para facilitar o acesso.

Como se percebe, há toda uma estrutura montada para que a Expô funcione. A montagem dela foi um aprendizado no decorrer dos anos.

O texto ficou grande, mas foi preciso explicar bem cada detalhe, e ainda assim, com certeza, nem tudo foi explicado. Se tiver alguma coisa para acrescentar, passe e-mail para conselio@gmail.com ou WhatsAAp para 18 99786 9445.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Vereador de 1982-88 e secretário municipal de Cultura de 2009-16. 

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