AGENDA CULTURAL

29.3.18

As formalidades - a hipocrisia dói menos que a autenticidade

Fábio Carille e Diego Aguirre

Hélio Consolaro*
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Acompanho os jogos de futebol pela TV, às vezes, vou a estádios, quando eles acontecem por perto de Araçatuba. Prestei atenção no imbróglio entre os técnicos Diego Aguirre, uruguaio, treinador do São Paulo, e o Fábio Carille, do Corinthians. Tudo aconteceu porque o uruguaio não cumprimentou o brasileiro antes do jogo.

Confesso que tenho certa antipatia pelo Uruguai no futebol, são parecidíssimos com os argentinos. Vou dar três exemplos recentes: a briga entre Peñarol e Palmeiras (Libertadores de 2017), como os torcedores do Nacional trataram a Chapecoense lá no Estádio Índio Condá, em Santa Catarina (Libertadores 2018). E agora, desprezo de Aguirre a Carille. Certamente, há exemplos mais escabrosos em passado remoto.

Fala-se muito da imagem pública de uma entidade, instituição, de uma autoridade ou de um simples cidadão. Posso dizer que o futebol está com sua imagem pública melhorada, mesmo na América Latina. A Conmebol (Conferência Sul-Americana de Futebol) está imprimindo seriedade em suas ações, deixando-a com uma imagem pública melhor. 

Alguém me disse que a formalidade preserva o respeito. Na época, eu achava que isso era coisa da burguesia, hoje, "velhão", concordo com a assertiva. E as solenidades esportivas têm prezado por isso. Se o jogador é retirado do jogo pelo técnico, ele sai, cumprimenta o substituto, o técnico e vai para o banco. Se ele não fizer isso, demonstra que não gostou da substituição. Há uma interpretação para cada ação ou reação.  

O técnico Aguirre não cumprimentou Carille com o aperto de mão, nem deu tapinhas nas costas, nem falou "oi", deixando o técnico do Corinthians bravo. O uruguaio estranhou tal cobrança, como a dizer que no país dele isso não acontece. Essa falta de cumprimento revela a formalidade que norteia o futebol. Considero bom, respeitoso.

Apertar as mãos em cumprimento e dizer ao outro que está desarmado (literalmente, sem armas), uma cortesia entres chefes que estão em paz. Tudo em nosso comportamento, por mais mecanicamente que seja feito, tem um sentido.

Segundo o escritor brasileiro Machado de Assis, hipocrisia, que é uma espécie de formalidade, é menos dolorosa que a autenticidade. O autêntico bate no peito dizendo a sua verdade, mas nem sempre faz isso com lhaneza. Carille, que se revelou mais autêntico nessa briga toda, precisa aprender isso, principalmente quem ocupa alto cargo, como ser técnico do Corinthians. Se praticar esporte é bom para quem ler, a recíproca também é verdadeira: ler é ótimo para quem pratica esporte. 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP      

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