AGENDA CULTURAL

6.9.19

Avarenta de carinhos


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

As palavras avareza e avarento estão ligadas ao dinheiro, aos bens materiais. 

Há gente que junta dinheiro a vida toda, passa pela vida e não a vive plenamente porque precisa ter para a velhice, mas quando envelhece se vê tomada pelo vício e continua a avareza. Ao morrer, talvez seja enterrada num caixão de terceira por seus herdeiros.

Mas também podemos empregar a palavra no sentido figurado, como o título desta crônica "Avarenta de carinhos". Li tal expressão no livro "A retornada", da escritora Donatella Di Pietrantonio, pois a personagem narradora, uma menina, considerava sua mãe "avarenta de carinhos", mas de vez em quando lhe dispensava alguns que, por serem raros, tinham um significado maior. 

Eu me considero um avarento de carinhos. Uma pessoa contida que se revela apenas ao escrever. Talvez esteja aí essa minha obsessão à escrita. 

Não é raro os mais corajosos me chamarem às vezes de "lorde", sujeito que vê o mundo do alto, com certa imponência. Uma postura involuntária que muitas vezes me livra de certos incômodos, mas que me deixa com certa carência afetiva. 

A leitura do livro "Carícias essenciais", de Roberto Shinyashiki, me fez muito bem para eu me interpretar como sou e melhorar em alguns aspectos. Outro livro que me deu um soco no estômago foi "O direito à ternura", do colombiano Luís Carlos Restrepo, Editora Vozes. Conhecer a Itália, mesmo rapidamente, fez conhecer melhor este ser etrusco.

Algumas pessoas são carinhosas a qualquer momento, até banalizam o elogio fácil, por exemplo. Outras se manifestam timidamente a expressão de seu carinho pela outra. E assim convivemos com uma diversidade de tipos de gente.

Aprendi com o cristianismo que a caridade não é dar esmolas, mas aquilo que você tem de melhor. Aceitar as pessoas como elas são, com todos os defeitos e virtudes, está na essência de ser caridoso. Que venha o meu próximo do mandamento, com todos os seus espinhos de ouriço.  

2 comentários:

TONY TEODORO disse...

O meu caso já é o oposto, algumas vezes até exagero no afago e na cordialidade, mas gosto de ser assim,o lado ruim talvez seja não aparentar seriedade, mas,penso que fico mais simpático.
Ser como somos,independente de como somos vistos pela sociedade é sinal de autenticidade.

Unknown disse...

Gostei muito desta "mea culpa" emocional. Estás a mudar, oh gajo.