AGENDA CULTURAL

24.8.20

Abortar é matar no ninho

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Fui professor de Português por 36 anos e também lecionei apenas Redação no ensino médio e cursinhos, tendo em vista os exames vestibulares. Sempre recomendei aos alunos que, ao redigir um texto dissertativo, tenha uma posição definida diante do tema, fica mais fácil. 


Não existe tema mais polêmico do que o aborto. Para que os alunos ganhem argumentos precisam ouvir, ler e debater o tema em sala de aula, já que possuem pouca vivência e nem o tema é sempre discutido em casa. 

Na avaliação, a nota era dada pelo alinhavo dos argumentos, pela boa construção do texto, sem levar em conta a  posição tomada.

Como mediador do processo educacional, o professor também precisa se colocar de forma ponderada. Os alunos cobram uma posição do mestre, não pode se furtar. No final do texto, caro leitor, você vai saber qual é a minha postura diante do tema. 

Discutir o aborto na família dos outros é confortável, mas quando o feto se instala sem protocolos no útero de um membro da família, consomem-se horas de sono. Exemplo: uma filha adolescente que se engravidou com o namoradinho, num relacionamento sem compromisso, sendo ele tão novo quanto ela.

Cabe à família tomar a decisão e não ao Estado determinar por lei o que deve ser feito. Trata-se de uma questão de foro íntimo, de concepção de vida. Não estamos num regime político liberal, em que se toma a decisão conforme a consciência de cada um? 

Grupos possuem sua religião, um direito das democracias, mas acontece que às vezes querem impor sua visão de mundo aos demais concidadãos, fazem lobby, pressão sobre parlamentares e tribunais para que a contrariedade ao aborto seja imposto à toda sociedade pela força da lei. Usam o braço forte do Estado para impor a sua fé. Não estamos mais na teocracia.

Eu sou contra o aborto, mas quero dar liberdade a quem for favorável que o faça sem ser classificado pelos tribunais de criminoso ou criminosa. Essa minha posição e de muitos brasileiros se chama "descriminalizar o aborto". 

Quem sou eu para jogar pedras nos outros, mas é bom dizer para que as pessoas descubram as suas contradições, porque há muita gente que é contra o aborto, quer que ele seja proibido por lei, mas é a favor da pena de morte e da liberação da venda de armas. Precisa-se ser a favor da vida em todas as situações.

O lema deste cronista é viver e deixar o outro a viver também, por isso sou contra o aborto, mas não desejo que ele seja criminalizado. 

"Abortar é matar no ninho", eis um bom tema para dissertação.

Um comentário:

Alcino disse...

Isso e verdade Hélio, pois não existe uma verdade absoluta é nem um dono da razão, cabe aos envolvidos no caso decidirem a melhor solução.