Radiografias de mandíbula normal (A) e Displasia Cemento Óssea Florida (B) com áreas esclerosadas e soldadas com os dentes e no lugar de osso normal ! |
Algumas doenças afetam mais certas etnias por alguma
alteração genética muito específica. As pessoas com pele negra apresentam uma
curiosa doença óssea nos maxilares com três fases de evolução:
1.ª) Áreas com até 2 cm por entre ou abaixo das raízes dos
dentes, em ambos os lados da mandíbula, em que o osso vai sendo trocado por
tecido mole fibroso em alguns meses. Nas radiografias, o osso vai sendo
reabsorvido, lentamente e sem dor.
2ª) O tecido mole produz ilhotas de tecido mineralizado e
desorganizado parecido com o cemento que recobre as raízes dos dentes. No meio
das áreas, na radiografia, aparecem pontos radiopacos como grânulos de areia no
meio da área de osso “perdido”.
3ª) Finalmente, dentro das áreas, formam ilhotas e massas
irregulares de osso displásico ou malfeito (foto), que parecem chumaços de
algodão ou canteiros de flores nas radiografias. Essas massas ou chumaços de
osso desorganizado e esclerosado abraçam as raízes dos dentes, se soldando a
elas, impedindo movimentos de dentes por aparelhos ortodônticos. A doença
representa uma das raras contraindicações de colocação de aparelhos quando é
devidamente diagnosticada.
A doença se chama Displasia Cemento Óssea Florida e afeta
mais as mulheres na faixa etária ao redor de 40 anos. Geralmente são pessoas
pobres e sem acesso a serviços de saúde para exames radiográficos de rotina nos
maxilares. Isto é necessário para descobrir a doença, já que é assintomática.
DIAGNÓSTICO
É muito importante diagnosticar cedo a Displasia Cemento
Óssea Florida pois, além de impedir a movimentação de dentes, não se deve ter
gengivite, periodontite e cárie, nada que possa levar bactérias para o osso.
Ele fica tão esclerosado que perde a capacidade de defesa e quaisquer bactérias
da boca geram uma Osteomielite Crônica Purulenta secundária, com perda parcial
ou total da mandíbula.
Se descobre a doença por acaso, ao procurar por uma prótese
ou implante dentário. Na radiografia, o profissional da odontologia se depara
com aquela mandíbula esclerosada bilateralmente. A doença pode afetar a maxila,
embora isto seja eventual. A doença também contraindica a colocação de
implantes, assim como extrações de dentes e outras cirurgias, pois representam
portas de entrada para bactérias. Cirurgias apenas as inevitáveis e sob
cuidados especiais.
Muitas osteomielites na mandíbula ocorrem em pacientes com
Displasia Cemento Óssea Florida e que nem sabiam que a tinham! Se ainda mais,
tiver uma doença debilitante como diabete, imunodepressão ou estar em
terapêutica oncológica, muito dificilmente a osteomielite mandibular deixará de
ocorrer se a paciente apresentar dentes com gengivites, cáries e fizer
exodontias. Antes de qualquer radioterapia ou quimioterapia, pacientes devem
ter dentes e maxilares radiografados e avaliados.
REFLEXÃO FINAL
A Displasia Cemento Óssea Florida não é rara, mas sim, mal e
tardiamente diagnosticada. Uma pergunta: - não se poderia conscientizar as
pessoas a radiografar seus dentes e maxilares, pelos menos uma vez a cada 5
anos, para se checar a saúde dos maxilares?
Quando se fala em pessoas negras estamos falando de 75% da
população, índice que os estudos revelam ser os portadores de genes da etnia
negra entre brasileiros. Muitos “brancos” podem ter a Displasia Cemento Óssea
Florida na vida, pois tem genes da etnia negra em seu genoma, afinal a
miscigenação entre nós é muito grande. O pior mesmo é que muitos destas pessoas
são racistas!
Alberto Consolaro – Professor Titular da USP - FOB Bauru-SP - consolaro@uol.com.br
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