AGENDA CULTURAL

27.8.20

Doença óssea mandibular de mulheres negras! - Alberto Consolaro


Radiografias de mandíbula normal (A) e Displasia Cemento Óssea Florida (B) com áreas esclerosadas e soldadas com os dentes e no lugar de osso normal !

Algumas doenças afetam mais certas etnias por alguma alteração genética muito específica. As pessoas com pele negra apresentam uma curiosa doença óssea nos maxilares com três fases de evolução:

1.ª) Áreas com até 2 cm por entre ou abaixo das raízes dos dentes, em ambos os lados da mandíbula, em que o osso vai sendo trocado por tecido mole fibroso em alguns meses. Nas radiografias, o osso vai sendo reabsorvido, lentamente e sem dor.

2ª) O tecido mole produz ilhotas de tecido mineralizado e desorganizado parecido com o cemento que recobre as raízes dos dentes. No meio das áreas, na radiografia, aparecem pontos radiopacos como grânulos de areia no meio da área de osso “perdido”.

3ª) Finalmente, dentro das áreas, formam ilhotas e massas irregulares de osso displásico ou malfeito (foto), que parecem chumaços de algodão ou canteiros de flores nas radiografias. Essas massas ou chumaços de osso desorganizado e esclerosado abraçam as raízes dos dentes, se soldando a elas, impedindo movimentos de dentes por aparelhos ortodônticos. A doença representa uma das raras contraindicações de colocação de aparelhos quando é devidamente diagnosticada.

A doença se chama Displasia Cemento Óssea Florida e afeta mais as mulheres na faixa etária ao redor de 40 anos. Geralmente são pessoas pobres e sem acesso a serviços de saúde para exames radiográficos de rotina nos maxilares. Isto é necessário para descobrir a doença, já que é assintomática.

DIAGNÓSTICO

É muito importante diagnosticar cedo a Displasia Cemento Óssea Florida pois, além de impedir a movimentação de dentes, não se deve ter gengivite, periodontite e cárie, nada que possa levar bactérias para o osso. Ele fica tão esclerosado que perde a capacidade de defesa e quaisquer bactérias da boca geram uma Osteomielite Crônica Purulenta secundária, com perda parcial ou total da mandíbula.

Se descobre a doença por acaso, ao procurar por uma prótese ou implante dentário. Na radiografia, o profissional da odontologia se depara com aquela mandíbula esclerosada bilateralmente. A doença pode afetar a maxila, embora isto seja eventual. A doença também contraindica a colocação de implantes, assim como extrações de dentes e outras cirurgias, pois representam portas de entrada para bactérias. Cirurgias apenas as inevitáveis e sob cuidados especiais.

Muitas osteomielites na mandíbula ocorrem em pacientes com Displasia Cemento Óssea Florida e que nem sabiam que a tinham! Se ainda mais, tiver uma doença debilitante como diabete, imunodepressão ou estar em terapêutica oncológica, muito dificilmente a osteomielite mandibular deixará de ocorrer se a paciente apresentar dentes com gengivites, cáries e fizer exodontias. Antes de qualquer radioterapia ou quimioterapia, pacientes devem ter dentes e maxilares radiografados e avaliados.

REFLEXÃO FINAL

A Displasia Cemento Óssea Florida não é rara, mas sim, mal e tardiamente diagnosticada. Uma pergunta: - não se poderia conscientizar as pessoas a radiografar seus dentes e maxilares, pelos menos uma vez a cada 5 anos, para se checar a saúde dos maxilares?

Quando se fala em pessoas negras estamos falando de 75% da população, índice que os estudos revelam ser os portadores de genes da etnia negra entre brasileiros. Muitos “brancos” podem ter a Displasia Cemento Óssea Florida na vida, pois tem genes da etnia negra em seu genoma, afinal a miscigenação entre nós é muito grande. O pior mesmo é que muitos destas pessoas são racistas!
  
Alberto Consolaro – Professor Titular da USP - FOB Bauru-SP - consolaro@uol.com.br

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