AGENDA CULTURAL

3.8.20

Ganhou na Mega-Sena. E agora?


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Araçatuba tem um novo milionário, sozinho, apostando R$ 4,50, ganhou metade da Mega-Sena, enquanto um  grupo de Brasília ganhou a outra metade. 

O milionário interiorano pode ser o meu vizinho. Não pode ser. Não vi nenhuma manifestação de alegria, nem contida, no meu quarteirão. 

Quem ganhou, se já sabe disso, deve ser um sujeito que gosta de dinheiro e acredita em Papai Noel. Não é como este cronista que não joga em loteria por medo de ficar rico e apenas trocar as características dos seus problemas.

O contemplado deve ter conferido as dezenas: 01-07-10-12-33-42. Talvez jogue nelas há anos, insistente: numa hora, vai dar. E deu! É impossível que não tenha conferido o resultado, depois de ficar na fila da lotérica para jogar.  

Não sei se evangélico joga na loteria. Se for e a igreja permite, vai logo contar para o pastor a sua sorte, deixará um gordo dízimo. Se não tomar cuidado, depois de várias mordidas, o novo rico não terá mais dinheiro. 

Será que o sortudo lutou muito para receber o auxílio emergencial de R$ 600,00 naquela agência desgraçada da Caixa Econômica Federal... Chegou a prometer num rosnar: "um dia volto aqui em melhores condições". E voltou. 

Agora, ele vai falar, cheio de panca, com o gerente:

- Boa tarde!

E se senta sob o olhar contrariado dos funcionários naquele sofá macio. O gerente faz um perfil da criatura e responde:

- Auxílio emergencial é do outro lado...

O contemplado se atreve (não faria isso nunca antes, pois tinha um medonho complexo de inferioridade) a cochichar algo no ouvido do gerente, que se espalha em alegria e puxa-saquismo. 

- Parabéns! Agora o senhor passou do outro lado! Vamos investir isso, temos muitas opções!!! 

Talvez o contemplado com a Mega-Sena esteja carregado de dívidas. Brasileiro sem dívida é raro. Dessa vez, ele vai limpar o seu nome na praça, deixando o credores contentíssimos.

Ou então o araçatubense sortudo que empurra um carrinho da Acrepom, recolhendo lixo reciclável pelas ruas da cidade. Agora, com tanto dinheiro, vai comprar uma camionete para fazer o serviço. O ganhador sem horizontes.

Seja lá quem for o premiado, vai realizar alguns sonhos, resolver as demandas familiares. Como foi um dinheiro ganho com facilidade, poderá gastá-lo rapidinho. Pobre quando ganha muito dinheiro de repente (leia histórias de jogador de futebol), não tem prática em administrar bens, perdê-lo é a coisa mais fácil do mundo.

A melhor vida é construída com dignidade, o suficiente para viver sem esmolar ou esnobar. "Aurea mediocritas", escreveu Horácio, poeta romano. Isso se constrói na luta pessoal e na luta política.
  

   

2 comentários:

Zulmira A O Tinti disse...

Não vou ganhar nunca....kkkk pq nao jogo....

Gladiador disse...

Vamos tentar mais uns anos.