AGENDA CULTURAL

11.9.20

Comemorei aos berros


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Recebi telefonema de um amigo bolsonarista, querendo se aproveitar de minha assinatura Premiere para assistir a Palmeiras e Corinthians. E por que não? Mas não lhe contei um segredo.
Fiquei na minha. 

Araçatuba está mesmo na fase amarela, com quarentena do coronavírus flexibilizada, assistir ao jogo na TV numa área de fundo, com ventilação, guardando o distanciamento, nada demais. Além disso, este cronista estava carente de uma boa conversa regada a cerveja, mesmo que não pudesse tocar no assunto de política. Afinal, sempre quisemos manter a nossa amizade.  

A dupla era uma inversão total. Ele, bolsonarista, torcedor do Corinthians (time do ex-presidente Lula); eu, petista, torcedor do Palmeiras (time do atual presidente da República, Jair Bolsonaro).

A Helena ficou fazendo o papel de dona do boteco, servindo os petiscos, como mandioca frita, tapioca. E meu amigo não conhecia a especialidade da casa: cerveja envenenada com steinhäger. Fiz a recomendação:

- Esse bicho derruba. Não exagere!

Na televisão, jogo vai, jogo vem. O bolsonarista gostou do steinhäger. Corintiano Fagner foi expulso. Gol de pênalti, marcado pelo palmeirense Luís Adriano. Comecei a ficar em situação confortável. Expulsão do corintiano Danilo Avelar, gol belíssimo do menino palmeirense Gabriel Veron. Comemorei aos berros. E a minha visita falava cada vez mais. 


De repente, minha visita começou a lacrimejar com a derrota de seu time. Suas explicações eram tão desencontradas quanto às do técnico corintiano Tiago Nunes.

Mais pra lá do que pra cá, minha visita se lembrou de me cobrar qual era o meu segredo insinuado antes. Eu não pude me furtar da revelação:

- Quando você me pediu para assistir ao jogo aqui em casa, eu sabia que o Palmeiras ia ganhar o jogo.

- Como? - perguntou ele.

Eu tive que explicar:

- Trata-se de superstição. Toda vez que um corintiano pede para assistir minha casa ao confronto entre os dois times é sinal de uma grande amizade, por isso o tal Timão vira um timinho e perde.

Assim, o meu amigo corintiano e bolsonarista me falou algumas fake news, emputecido, e conseguiu alcançar o uber na calçada. Não sei como vai se explicar ao chegar em casa.     

Um comentário:

Unknown disse...

Acho que eu sei quem é o cara