Cálculo salivar quase saindo no soalho da boca ao lado do freio lingual e depois cortado ao meio! |
Humanos adoram jogar pedras no outro, em passarinhos e
outros animais. Pedras representam crítica e condenação como do julgamento
bíblico: atire a primeira pedra aquele que nunca pecou! Todos pecamos e isto
faz parte da vida: errar é humano. Só os desumanos acham se perfeitos e
“normais”.
Cálculos eram “pedras para fazer contas” e quando apareceram
as primeiras nos rins, vesícula biliar, ureter e bexiga, logo foram assim
chamadas. “Calculus” em latim ou “lithos” no grego, pedras também são
frequentes nas glândulas salivares. Sialolito é pedra nas glândulas salivares,
pois sialo indica relação com saliva. A doença “Sialolitíase” ocorre quando o
cálculo provoca o entupimento parcial ou total dos ductos das glândulas
salivares maiores como as submandibulares, parótidas e sublinguais. Tem-se
ainda os pequeninos cálculos nas centenas de glândulas bem pequenas que jogam
saliva para lubrificar a mucosa bucal.
Em um momento do dia, por onde passam secreções nos ductos e
órgãos ocos, o fluxo do líquido pode diminuir e quase parar. Neste momento, uma
gosma ou muco de proteínas se precipita na parede e os íons a impregnam
lentamente e vai solidificando este gel. Na parede dos ductos ou órgãos ocos
forma-se assim uma pedra irregular que gradativamente fecha o ducto e impedindo
a secreção de sair. Da obstrução parcial, evolui-se para a total.
No início nem se percebe o cálculo, mas depois de meses ou
anos, a secreção vai acumulando, se represando antes de sair. Se fechar toda a
luz ductal, aumenta o volume e dói muito, gerando forte sintomatologia. Nos
cálculos iniciados vão sendo depositadas novas camadas como se fossem camadas
de uma cebola cortada, mas com camadas muito irregulares. Se o fluxo de
secreção for forte, o cálculo vai rolando no ducto até chegar em um ponto que
se fixa definitivamente e vai só aumentando.
SALIVARES
As glândulas submandibulares estão em baixo, ao lado e atrás
da língua. Seus ductos se abrem ao lado do freio lingual na linha média como
duas elevações pequenas ou carúnculas, onde se veem dois pequenos orifícios. O
ducto vem subindo lá de trás e em alguns momentos do dia, sua saliva alcalina
fica acumulada, podendo precipitar a gosma de proteínas que a constitui e, em
cima dela, depositam o cálcio e outros íons. Os cálculos salivares são muito
mais comuns nas glândulas submandibulares (85 a 95%) em relação às parótidas (5
a 10%) e sublinguais (5%).
Os cálculos salivares são mais frequentes em adultos e
homens, sendo quase sempre unilateral. Antes das refeições, há aumento de
volume pois estanca saliva pela produção aumentada, quando provoca dor e
desconforto. Depois da refeição, vai desparecendo o aumento e a sintomatologia.
Uma das consequências é o ducto seco que as bactérias da boca aproveitam para
invadir a glândula, promovendo uma inflamação dolorosa e purulenta secundária
chamada de sialodenite secundária, muito dolorosa.
REFLEXÃO FINAL
Não é possível prevenir-se dos cálculos salivares, pois não
tem relação com dieta, hormônios, hereditariedade e nem com estilo de vida! O
tratamento varia desde a simples remoção por compressão manual, passa pela
cirurgia e até sua destruição no próprio local com cateteres especiais. Cada
caso deve ser avaliado individualmente!
Por falar em pedras, temos os “The Rolling Stones”, o
super-herói “Homem de Pedra”, as pessoas com coração de pedra e o julgamento
bíblico “atire a primeira pedra aquele que nunca pecou”! Eu prefiro a música
cantada por Marisa Monte que diz “Atire a primeira pedra quem não sofreu ou
quem não morreu por amor”.
Alberto Consolaro – Professor Titular da USP na FOB-Bauru-SP - consolaro@uol.com.br
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