AGENDA CULTURAL

9.9.20

Pedras que rolam no corpo e na saliva! - Alberto Consolaro

Cálculo salivar quase saindo no soalho da boca ao lado do freio lingual e depois cortado ao meio!

Humanos adoram jogar pedras no outro, em passarinhos e outros animais. Pedras representam crítica e condenação como do julgamento bíblico: atire a primeira pedra aquele que nunca pecou! Todos pecamos e isto faz parte da vida: errar é humano. Só os desumanos acham se perfeitos e “normais”.

Cálculos eram “pedras para fazer contas” e quando apareceram as primeiras nos rins, vesícula biliar, ureter e bexiga, logo foram assim chamadas. “Calculus” em latim ou “lithos” no grego, pedras também são frequentes nas glândulas salivares. Sialolito é pedra nas glândulas salivares, pois sialo indica relação com saliva. A doença “Sialolitíase” ocorre quando o cálculo provoca o entupimento parcial ou total dos ductos das glândulas salivares maiores como as submandibulares, parótidas e sublinguais. Tem-se ainda os pequeninos cálculos nas centenas de glândulas bem pequenas que jogam saliva para lubrificar a mucosa bucal.

Em um momento do dia, por onde passam secreções nos ductos e órgãos ocos, o fluxo do líquido pode diminuir e quase parar. Neste momento, uma gosma ou muco de proteínas se precipita na parede e os íons a impregnam lentamente e vai solidificando este gel. Na parede dos ductos ou órgãos ocos forma-se assim uma pedra irregular que gradativamente fecha o ducto e impedindo a secreção de sair. Da obstrução parcial, evolui-se para a total.

No início nem se percebe o cálculo, mas depois de meses ou anos, a secreção vai acumulando, se represando antes de sair. Se fechar toda a luz ductal, aumenta o volume e dói muito, gerando forte sintomatologia. Nos cálculos iniciados vão sendo depositadas novas camadas como se fossem camadas de uma cebola cortada, mas com camadas muito irregulares. Se o fluxo de secreção for forte, o cálculo vai rolando no ducto até chegar em um ponto que se fixa definitivamente e vai só aumentando.

SALIVARES

As glândulas submandibulares estão em baixo, ao lado e atrás da língua. Seus ductos se abrem ao lado do freio lingual na linha média como duas elevações pequenas ou carúnculas, onde se veem dois pequenos orifícios. O ducto vem subindo lá de trás e em alguns momentos do dia, sua saliva alcalina fica acumulada, podendo precipitar a gosma de proteínas que a constitui e, em cima dela, depositam o cálcio e outros íons. Os cálculos salivares são muito mais comuns nas glândulas submandibulares (85 a 95%) em relação às parótidas (5 a 10%) e sublinguais (5%).

Os cálculos salivares são mais frequentes em adultos e homens, sendo quase sempre unilateral. Antes das refeições, há aumento de volume pois estanca saliva pela produção aumentada, quando provoca dor e desconforto. Depois da refeição, vai desparecendo o aumento e a sintomatologia. Uma das consequências é o ducto seco que as bactérias da boca aproveitam para invadir a glândula, promovendo uma inflamação dolorosa e purulenta secundária chamada de sialodenite secundária, muito dolorosa.

REFLEXÃO FINAL

Não é possível prevenir-se dos cálculos salivares, pois não tem relação com dieta, hormônios, hereditariedade e nem com estilo de vida! O tratamento varia desde a simples remoção por compressão manual, passa pela cirurgia e até sua destruição no próprio local com cateteres especiais. Cada caso deve ser avaliado individualmente!

Por falar em pedras, temos os “The Rolling Stones”, o super-herói “Homem de Pedra”, as pessoas com coração de pedra e o julgamento bíblico “atire a primeira pedra aquele que nunca pecou”! Eu prefiro a música cantada por Marisa Monte que diz “Atire a primeira pedra quem não sofreu ou quem não morreu por amor”.

 
Alberto Consolaro – Professor Titular da USP na FOB-Bauru-SP - consolaro@uol.com.br






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