AGENDA CULTURAL

3.1.21

O mascarado sem máscara

 

Dois mascarados sem máscara

Aqui em casa me pediram para levar limão galego para para a comadre Elvira. A recomendação foi pesada:

- Não é para descer, ficar tomando cerveja, estamos em pandemia. É buzinar e entregar o saquinho de limão. 

Antes de eu chegar à garagem, outra recomendação:

- Não se esqueça da máscara.

E respondi:

- O porta-luvas está cheio de máscaras!

E fui. Chegando lá, estranhei a vizinhança do lado direito, um pessoal com panca de roqueiros mal-encarados, daqueles bem sacudidos, carregados de tatuagens, aglomerados na frente da casa. Quando chegou um deles com máscara, deram-lhe um cacete, meteram a mão na cara dele, tirando-lhe a focinheira aos gritos:

- Você é homem ou maricas, vagabundo. Aqui só tem macho! É pra obedecer!

Entreguei os limões para a comadre Elvira, que também usava máscara, e perguntei:

- Novos vizinhos?

- Ganhamos esse presente nessa pandemia. São bolsonaristas com todo o vocabulário do chefe.  Barulho até a madrugada, nada de boas maneiras, uns mascarados... Dizem que por onde passam, não pagam aluguel. Quero ver agora sem o auxílio emergencial...

- Mascarados? Mas não usam máscara? - perguntei.

Elvira respondeu baixinho na janela de meu carro com  vidro pouquinho descido:

- Mascarados porque são metidos a besta. Bem diferentes dos bolsonaristas aí da frente, que até já xingam o presidente que elegeram.

A turma de camiseta regatas me encarou, vinha pra cima, quando acelerei o carro e fui embora para evitar o pior.

Chegando em casa, liguei para o compadre Jurandir. 

- O que houve com as feras que moram ao seu lado, estavam com cara de nada amigos e vieram para o meu lado.

Ele respondeu:

- Não gostaram de seu jeito. Incompatibilidade ideológica. 

E caímos na risada. 

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