AGENDA CULTURAL

18.4.21

Flúor em dose excessiva pode matar! - Alberto Consolaro

        

Ao receitar um remédio, se deve saber como e onde ele atua na doença ou na sua causa. Se não souber, não é científico!
Uma jovem de 22 anos, depois de apresentar reabsorções nas raízes dentárias em tratamento ortodôntico, foi “medicada” em receita com altíssimas doses de flúor (2g/dia) por profissional habilitada no Paraguai. Era para prevenir e tratar reabsorções, mas no primeiro dia teve problemas gastrintestinais, descompensou e, infelizmente, entrou em choque com parada cardiorrespiratória e óbito.

O que mais ouvi foi: em que se baseou para receitar o flúor nesta dose e com esta indicação? Onde está escrito? Que pesquisa publicada comprovou que flúor previne e trata reabsorções dentárias? A responsabilidade de quem assina uma receita é muito grande. É vida em risco! Igual responsabilidade, tem quem faz isto pela mídia! O flúor não está indicado em qualquer tipo de reabsorção.

Veio à minha lembrança enganações como a fosfoetanolamina, a “pílula do câncer” que prometia acabar com a doença! Era fabricada na USP de São Carlos sem autorização e sem seguir o método científico! Foi mais uma crendice.

Profissionais criteriosos não receitam por impulso, crendice ou intuição, apenas receitam drogas testadas e publicadas nas melhores revistas. Para os que não agem assim, perguntei se conheciam René Descartes ou “O Discurso do Método”? Sequer tinham ouvido falar! Em homenagem a ele, escrevi o texto a seguir!

QUEM e COMO

384 anos a humanidade deixou de considerar a vontade de acertar, o abstrato, a reflexão e o artístico como formas de conhecimento científico, no qual a fé e a política não interfeririam de forma alguma. Até então, se permitia influência de opiniões, dogmas, magias, experiências pessoais ou crenças e não era preciso provar nada! A partir desta data, ditadores e facínoras passaram a detestar a ciência e as universidades.

Para que algo seja científico tem que ser provado usando um método lógico de análise descrito minuciosamente ao público. O objetivo é permitir que outros repitam tudo e obtenha os mesmos resultados, sob as mesmas condições, em qualquer lugar do planeta. Na ciência, opinião e fé não têm valor na interpretação dos fenômenos.

O inventor da ciência contemporânea foi o gênio René Descartes. Este francês estabeleceu os princípios da experimentação científica no livro “O Discurso sobre o Método”, em 1637. É uma verdadeira cartilha sobre como fazer um trabalho de pesquisa perfeito e um manual universal da investigação científica. Nele está escrito: só se pode dizer que algo existe quando puder ser provado, sendo o ato de duvidar inquestionável”.

Na ciência, depois da pergunta inicial, o maior valor da pesquisa é a sua metodologia para que todo o conhecimento obtido possa ser comprovado em qualquer parte do mundo, usando-se das mesmas condições. Ser cartesiano significa ser metódico, criterioso e exige repetição comprovatória para que a checagem comprove o que foi calculado e provado. Para Descartes, é obrigação dos profissionais serem céticos e não aceitar nada como certo antes de verificar ou observar se existem evidências indubitáveis acerca do que foi concluído.

REFLEXÃO FINAL

Ao cuidar de vidas, os profissionais não têm o direito de alegar ignorância, mesmo nos detalhes, e se autoconsiderarem inocentes a partir dela! O conhecimento está à disposição de todos os profissionais e se chama literatura médico-odontológica. Fora dela, temos somente a escuridão das crendices!


Alberto Consolaro – professor titular da USP - FOB Bauru-SP - consolaro@uol.com.br  


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