Ao receitar um remédio, se deve saber como e onde ele atua na doença ou na sua causa. Se não souber, não é científico! |
O que mais ouvi foi: em que se baseou para
receitar o flúor nesta dose e com esta indicação? Onde está escrito? Que pesquisa
publicada comprovou que flúor previne e trata reabsorções dentárias? A
responsabilidade de quem assina uma receita é muito grande. É vida em risco!
Igual responsabilidade, tem quem faz isto pela mídia! O flúor não está indicado
em qualquer tipo de reabsorção.
Veio à minha lembrança enganações como a fosfoetanolamina,
a “pílula do câncer” que prometia acabar com a doença! Era fabricada na USP de
São Carlos sem autorização e sem seguir o método científico! Foi mais uma
crendice.
Profissionais criteriosos não receitam por
impulso, crendice ou intuição, apenas receitam drogas testadas e publicadas nas
melhores revistas. Para os que não agem assim, perguntei se conheciam René
Descartes ou “O Discurso do Método”? Sequer
tinham ouvido falar! Em homenagem a ele, escrevi o texto a seguir!
QUEM e COMO
Há 384 anos a humanidade deixou de considerar a vontade de acertar, o abstrato, a reflexão e o artístico como formas de conhecimento científico, no qual a fé e a política não interfeririam de forma alguma. Até então, se permitia influência de opiniões, dogmas, magias, experiências pessoais ou crenças e não era preciso provar nada! A partir desta data, ditadores e facínoras passaram a detestar a ciência e as universidades.
Para
que algo seja científico tem que ser provado usando um método lógico de análise
descrito minuciosamente ao público. O objetivo é permitir que outros repitam
tudo e obtenha os mesmos resultados, sob as mesmas condições, em qualquer lugar
do planeta. Na ciência, opinião e fé não têm valor na interpretação dos
fenômenos.
O
inventor da ciência contemporânea foi o gênio René Descartes. Este francês
estabeleceu os princípios da experimentação científica no livro “O Discurso sobre
o Método”, em 1637. É uma verdadeira cartilha sobre como fazer um trabalho de
pesquisa perfeito e um manual universal da investigação científica. Nele está
escrito: “só se pode dizer que
algo existe quando puder ser provado, sendo o ato de duvidar inquestionável”.
Na ciência, depois da pergunta inicial, o
maior valor da pesquisa é a sua metodologia para que todo o conhecimento obtido
possa ser comprovado em qualquer parte do mundo, usando-se das mesmas
condições. Ser cartesiano significa ser metódico, criterioso e exige repetição
comprovatória para que a checagem comprove o que foi calculado e provado. Para
Descartes, é obrigação dos profissionais serem céticos
e não aceitar nada como certo antes de verificar ou observar se existem
evidências indubitáveis acerca do que foi concluído.
REFLEXÃO FINAL
Ao cuidar de vidas, os profissionais
não têm o direito de alegar ignorância, mesmo nos detalhes, e se autoconsiderarem
inocentes a partir dela! O conhecimento está à disposição de todos os
profissionais e se chama literatura médico-odontológica. Fora dela, temos
somente a escuridão das crendices!
Alberto Consolaro – professor titular da USP - FOB Bauru-SP - consolaro@uol.com.br
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