AGENDA CULTURAL

4.4.21

Herpangina gera confusão diagnóstica

Exemplos de herpanginas na mucosa do palato mole e úvula.

Certas doenças são mais frequentes do que se imagina, pois em boa parte das pessoas são subclínicas e nem se procura um diagnóstico profissional, elas se autorresolvem. Isto acontece com o herpes simples intrabucal, molusco contagioso e especialmente com a herpangina.

Quando uma destas doenças se apresenta com sinais e sintomas típicos, o diagnóstico pelo profissional se complica pela simplicidade da doença, principalmente se estiver acostumado a quadros mais graves de outras doenças. Por mais experiente, inteligente e estudioso que um profissional seja, jamais saberá tudo!

Na boca de pacientes com covid-29, a única manifestação específica da doença é a disgeusia ou alteração do paladar. As demais, são secundárias do estresse, falta de higiene adequada e outras, são doenças que aconteceriam independente da pandemia. Na revista “Nature Medicine” saiu um trabalho exemplar sobre o coronavírus nas estruturas bucais e saliva, escrito por um grupo muito grande cientistas liderados por Ni Huang da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

HERPANGINA

Quando uma criança, especialmente entre 3 a 10 anos, abre a boca e você percebe pápulas e vesículas na mucosa vermelha com petéquias limitando-se ao palato mole, úvula, e os pilares tonsilares na passagem da boca para a orofaringe, a possibilidade de ser Herpangina é muito grande. Se paciente e pais relatarem a ocorrência de febre que apareceu subitamente e com a dificuldade de deglutir, o diagnóstico caminha para a confirmação.

O interessante da herpangina é a limitação a esta área que a doença se apresenta. O quadro parece muito com a estomatite herpética que tipicamente envolve a gengiva, o dorso da língua, bochechas e os lábios, o que não ocorre na herpangina. A herpangina afeta a linha média e quase que exclusivamente no palato mole, úvula e orofaringe, sendo bem menos incomodativa que a lesão herpética. E não envolve as gengivas!

É difícil ver, mas a base da língua também está afetada com os nódulos linfáticos da região muito doloridos. Pode ter cefaleia, anorexia, vômitos e dores abdominais. Apesar de ser típica de crianças, pode ocorrer em adultos, apesar de menos comum. A febre dura 2 a 3 dias e as lesões entre 4 a 6 dias. Em 7 a 10 dias a cura completa se estabelece.

A herpangina, descrita em 1924, teve o vírus identificado em 1948 em surto na cidade de Coxsakie (NY) que recebeu o nome de Coxsakievírus A e B. O contágio se faz pelo contato próximo de familiares e em escolas infantis, pelas gotículas de saliva, aerossol da respiração e objetos contaminados por via orofecal. O período de incubação varia de 2 a 10 dias. Alguns subtipos do vírus provocam manchas vermelhas populosas no dorso das mãos e dos pés, especialmente entre os dedos e nas bases das falanges e, eventualmente, nas nádegas, quando se chama Doença das Mãos e Pés.

REFLEXÃO FINAL

A herpangina se autorresolve e não é manifestação de outras doenças. O tratamento envolve repouso, ingestão de líquidos e analgésicos. Se tiver qualquer dúvida quanto ao diagnóstico, consulte um estomatologista, pediatra ou odontopediatra. E não esqueçamos que nas ruas só cumprimentamos quem conhecemos. Com as doenças também, só diagnosticamos o que sabemos previamente!


Alberto Consolaro – professor titular da USP - FOB Bauru-SP - consolaro@uol.com.br 

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