AGENDA CULTURAL

4.8.21

Mete a colher

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

A violência, sob qualquer forma que se manifeste, é um fracasso. Jean-Paul Sartre, filósofo francês

Não se trata de uma crônica sobre um cartum de Nando Mattos, um jovem chargista e músico, em que o ditado "Em briga de marido e mulher não se mete a colher" é desautorizado. 

O assunto hoje são os 15 anos da Lei Maria da Penha, cuja homenageada com o nome do instrumento legal levou um tiro do marido e ficou paraplégica. E escreveu um livro sobre a sua tragédia. 

O cartum de Nando Mattos me encantou com sua eloquência, isso me fez postá-lo na página do grupo Agenda Cultural de Araçatuba e Região (Facebook). O cartum foi tão contundente que o escritor araçatubense Dr. Lourival Amilton Lautenschlager, o Lorico, confrade da Academia Araçatubense de Letras não se conteve, fez um comentário na página, sob o cartum: 

"Eu sempre tive pra mim que esse sapientíssimo conselho que vejo darem desde minha longínqua infância se restringe a 'brigas de boca', para o que marido e mulher são equipados igualmente. E muitas vezes vi, após melosas reconciliações, 'sobrar' para quem muito bem intencionado a 'meter a colher'"

Há anos, também tinha a mesma leitura do ditado popular, mas mesmo quando menino, de vez em quando aparecia uma colega de minha mãe com a cara inchada, porque o sujeito chegou bêbado em casa e dava uma de valentão. E muitos feminicídios foram praticados a troco de se lavar a honra com o sangue da adúltera. A música "Cabocla Teresa" é um exemplo. 

Neste tempo de empoderamento da mulher, com delegacia da mulher e leis protetoras houve uma releitura: mulher que apanha e fica quieta, só Nélson Rodrigues explica. 

Uma pesquisa feita pelo IPEA em 2010 revelou que apenas 4,3% dos entrevistados responderam que a investigação não deve prosseguir por ser um problema particular do casal. 

O significado dado pelo amigo Lorico ainda vale para algumas situações, principalmente para as sogras. 

A violência doméstica não é apenas um problema familiar. A mulher é quase sempre a vítima, difícil ter casos de homens que apanham de suas mulheres.

O amor inicial arrefeceu? Porém, a mesma mão que acariciou durante o namoro, chamando-a de meu amor, não pode se transformar em soco ou empunhar um revólver. 

Há um ditado antigo, mas ainda é válido: em mulher, não se bate nem com uma flor.  

Nenhum comentário: