AGENDA CULTURAL

20.6.22

A vida é feita para os amadores - Gervásio Antônio Consolaro


Assim o “homo sapiens” ousa teorizar, teria descoberto como aliviar a percepção de finitude de tudo, essa consciência dolorosa, efeito colateral  da sua fantástica evolução. Percebeu logo esse esperto descendente dos símios que só conseguiria esquecer que nasce só e morre só (o tal “tudo se acaba e nada se leva”) estabelecendo fortes conexões físicas e emocionais com tudo o que encontra pelo planeta.

      Os mais limitados e egoístas se apegaram somente a bens e poder. Acumular é a sua  meta, mesmo que sem sentido e com maus prognósticos.

     Os mais imaginativos e organizados criaram deuses e crenças à semelhança de suas vontades e carências de explicações. E se aliviam em templos e orações aos céus e praticando a caridade na Terra.

     Outros, mais à frente, se dedicaram a explorar e desenvolver a natureza, animais e plantas, e são os responsáveis pelo enorme progresso tecnológico, conforto e segurança que obtivemos em milênios.

     Críticos diriam, claro, que muitas pessoas misturam tudo, confundindo qualquer tentativa de definição. Sim, considerem isto apenas um esquema didático para tentar compreender o incompreensível ou aceitar o inaceitável….

      E, por fim, temos os sábios e solidários, que, além de cuidar deste mundo concreto, focam ou priorizam as relações humanas e o prazer de estar bem e sabem que outros à sua volta também estejam. A solidariedade suaviza!

     Dar e receber afeto e arte, compreender e ser compreendido, proteger e ser protegido, estimular e ser estimulado, enfim, estabelecer uma relação de confiança em que a dedicação mútua seja constante é o mais forte analgésico contra a citada angústia universal e representa a principal razão para nossa busca atávica de acolhimento em grupos ou famílias, e em especial por uma companhia, a romantizada necessidade de formar um casal.

       Enfim, este vital pacto de convivência representa uma simples, nem tão simples assim, admito, declaração conjunta em que, assinando ou não, combinamos sermos tão bons um para o outro, mas tão bons mesmo, que a tal sensação de solidão fica suspensa até o nosso último suspiro.

       Há quem diga que se alcance tal felicidade somente por pura sorte. Eu aposto que não. Acho que seja uma construção. Como aprender uma língua que conecta.  Se você não se dedicar a aprendê-la, como poderá pretender usufruir de algo que não reconhece? 

       E, em vez de delirarmos achando que isto possa acontecer espontaneamente, que tal expressarmos ao outro a necessidade de combinarmos e cumprirmos o combinado? Afinal, já que temos tantas boas razões, talvez baste sermos para ele(a) o que gostaríamos que fosse conosco. Simples e profunda empatia talvez resolva!

     Afinal, a vida, ao contrário do que dizem, não é para profissionais, mas, na verdade, parece feita para os muito amadores!     

Gervásio Antônio Consolaro, diretor da AFRESP, delegado regional Tributário e  auditor fiscal da Receita Estadual, aposentado, contador, administrador de empresas, bacharel em Direito e pós-graduação em Direito Tributário, coach pela SBC.                g.consolaro@yahoo.com.br 

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