AGENDA CULTURAL

29.6.22

Corpo ou cadáver


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

Da palavra estupro só tenho clareza de que se escreve e fala-se estupro e não "estrupo", do resto entendo pouco. 

Sócrates, Platão, Descartes são exemplos de filósofos que tentavam compreender o corpo de alguma forma, mas sou apenas cronista, um ser teimoso, que vai tentar escrever sobre o tema. Antigamente, falava-se muito em tarado.

Jesus Cristo foi a corporificação de Deus, que quis se fazer homem, sofrer as dores da carne ,por isso foi torturado, lancetado e crucificado.

Existe nisso tudo a concepção de corpo. Para mim, ele não é coisa do diabo, mas o templo divino. Eu sou o meu corpo. A relação sexual é a busca do outro, a perpetuação da espécie, sinal de que somos seres sociais.  

Há até quem defenda a teoria de que o orgasmo é a vibração divina no corpo, é o momento do encontro com Deus, por isso as igrejas não o valorizam porque querem ser o único canal de ligação com o divino.

Se o estupro é a violência no ato sexual, sem cio, sem cortejo, sem paixão, resumindo na frase: "pode ser ou está difícil", por que ocorre? Aí chegamos naquela outra frase: "só Freud explica". O tarado é um cara cheio de taras, e as taras são defeitos da natureza humana. 

A relação violenta com o mundo se aprende, conforme fomos tratados na vida, principalmente na infância. Há quem diga que há gente que gosta de apanhar na relação sexual: "não vai judiar de mim? São tão gostosos aqueles tapões na bunda..."

Os filmes pornográficos são escolas de estupradores. Através de encenações, as mulheres se transformam em objetos da violência masculina. E o tarado acredita naquilo e quer fazer o mesmo com a companheira. 

Passando alguns dias no hospital, como acompanhante, eu via aquela rotina com o corpo humano. Ora com vida, ora moribundo, ora desfalecido, morto. Não há tesão que resista a tudo aquilo.

Fiquei imaginando como os profissionais da saúde, principalmente médicos e enfermeiras, ainda se casam, têm filhos, conseguem ter uma visão romântica da vida diante daquela realidade reducionista do corpo humano: o cadáver.

Vender o corpo é outro tipo de relação que temos com o nosso templo. Tanto o atleta como a prostituta vendem o corpo, sem corpo esbelto ou sarado, não há negócio. 

Cuidar de seu corpo é como zelar do planeta, não há escolha, ou faz ou definha. A filosofia do estupro é nutrida pelo machismo, prepotência e autoritarismo, mazelas de nossa educação. 

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