AGENDA CULTURAL

11.6.22

Por que doenças estranhas aparecem - Alberto Consolarol

Doenças diferentes podem aparecer a partir da liberação de agentes contidos em ambientes violados por mudanças sem critérios e cuidados (do filme “Os Estranhos”).

Quantas doenças novas! Será que somos limpos ou teremos que mudar os hábitos? A maior e mais “rica” das cidades, tem falta de saneamento a céu aberto que faz parte de seus lindos cartões postais “inodoros” como os rios Pinheiros e Tietê. Sem falar das condições de vida degradantes de seus bairros não centrais, mostrando que riqueza e limpeza nem sempre andam juntas.

A superpopulação cobra uma tomada de providências. É difícil controlar a disseminação de bactérias, vírus, fungos e parasitas em aglomerados urbanos com mais de 1 milhão de habitantes. O contato humano é muito estreito e a troca de micróbios é normal pela saliva, respiração, toque e carinhos nos elevadores, corredores de centros de compra e filas para tudo. Nos shows, se esfregam e se tocam por horas.

Como distribuir água e saneamento em metrópoles com milhões de pessoas morando em espaços cada vez menores. A qualidade de vida cai e se diminui a capacidade de produzir e consumir. Fica difícil ter comida para todos, assim como educação para ensinar higiene e modos de vida saudável.

NO DIA A DIA

Se pega muito mais nos corrimões, maçanetas, pias, vasos sanitários, sabonetes, toalhas, aparelhos de academia, cadeiras, portas, vídeos de toque, máquinas de cartões e teclados. Na cozinha, se “manipula” e “armazena” muitos alimentos e se deixa muitos resíduos para uma superpopulação microbiana faminta. Um micro pedaço de alimento supre bilhões de vidas microbiana em casa, restaurantes e hotéis, sem contar nos serviços de entrega. E assim a segurança de higiene absoluta passa a ser relativizada!

Quantas vezes você lava as mãos por dia? E para coçar o olho, orelhas e nariz? E colocar os dedos e unhas na boca, você lava-os? Conte quantas vezes as pessoas lavam as mãos. Você vai se assustar? E a tela do celular e outros monitores? E o interior dos carros, direção, painéis, botões, bancos e maçanetas? E os óculos, roupas e calçados, quais são os cuidados especiais?

VIAGENS

As viagens e intercâmbio de pessoas e mercadorias, intercambiam os agentes infecciosos entre os continentes de forma incontrolável, via portos e aviões. Cavernas, florestas, geleiras e locais isolados tem microrganismos específicos, envolvendo suas plantas e animais. Romper este isolamento tem preço: pessoas serão contaminadas por agentes infecciosos ainda não conhecidos ou raros!

Na Ásia e na África, temos inúmeras endemias como por aqui, temos tuberculose, hanseníase, sífilis, esquistossomose, doença de Chagas, blenorragia, malária, paracoccidioidomicose, leishmaniose e outras. Por lá, são outras e afetam também os vulneráveis e com pouco interesse econômico em achar uma solução definitiva, como aconteceu com a Aids.

A OMS chama estas doenças de negligenciadas. Quando os agentes infecciosos saem do seu gueto biológico, assustam os europeus e norte-americanos, como está acontecendo agora com a varíola dos macacos. Nem vamos falar de doenças como o herpes simples, zoster, papiloma, molusco contagioso e outras.

TEREMOS QUE MUDAR

Sim! Devemos pensar antes: onde esteve a mão que irei cumprimentar? E a face que tocarei com beijinhos? Onde esteve a boca que agora pretendo beijar? Esta cama em que me deito, quem esteve aqui antes enrolado nestes lençóis? Neste banheiro, o que aconteceu momentos antes? Nesta porta que abro e nesta parede que encosto, quem fez isto antes de mim? No elevador e avião, quem esteve no mesmo lugar com gotículas, suor e alimentos? Se não mudarmos hábitos, ambientes e cidades, as doenças serão globalizadas, mais frequentes e, cada vez mais, estranhas!

Mas, a mãe de todas as mudanças, é eliminar uma das maiores vergonhas da humanidade: a existência injustificável da pobreza de uma parte da população por ser explorada por seres insensíveis que adoram o dinheiro e o lucro. Se não fizermos isso, a cobrança consequente e natural virá! Para Buda, aprender é mudar. Humanos, mudemos! 

Alberto Consolaro  

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru
consolaro@uol.com.br  

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