AGENDA CULTURAL

9.3.24

Está desconfiado de câncer na boca? Alberto Consolaro

Quem são e onde estão os “especialistas” em diagnosticar câncer bucal?

Imediatamente procure um profissional e, se ele pedir para voltar daqui três a seis meses, saiba que isto pode ser perigoso, pois se for um carcinoma ou câncer, irá progredir muito e pode comprometer a sobrevida.

Se quem lhe falou isto foi um profissional não especialista, procure outro, dê um jeito, fale com quem você achar melhor para ajudar, você precisa ser atendido por um especialista. A especialidade que você precisa é a Estomatologia, que não tem nada a ver com o estômago e sim com a boca, pois estuda e diagnostica as doenças de boca e orofaringe.

QUAL É O PROFISSIONAL?

Na prática, os profissionais treinados para diagnosticar as doenças da boca e o câncer bucal bem precoce são:

1. O estomatologista que é um cirurgião dentista treinado em cursos de especialização, mestrado ou doutorado.

2. O cirurgião bucomaxilofacial, que também deve estar treinado e preparado para fazer este tipo de diagnóstico bem precoce, pois recebeu esta formação na sua especialização, mestrado ou doutorado.

3. O cirurgião de cabeça e pescoço, um médico especializado em operar esta parte do corpo, como um oncologista da cabeça e pescoço. Na sua residência, que corresponde à especialização, tem anos de treinamento para reconhecer e tratar o câncer bucal.

4. O dermatologista não se preocupa apenas com a estética, ele também tem treinamento para diagnosticar precocemente o câncer bucal em sua residência.

5. O otorrinolaringologista recebe todo treinamento para diagnosticar precocemente o câncer bucal em sua residência.

Procure saber na internet e no site do Conselho Regional de Odontologia ou de Medicina, quem é esse profissional que escolheu para lhe consultar, qual é a sua formação e grau de experiência. Se você não tem como fazer isto por falta de familiaridade com a internet, peça para um parente ou um amigo fazer isto por você. Se não encontrar nenhuma informação sobre ele na internet, provavelmente deve ter alguma coisa errada. Procure outro, mas não desista, você tem pressa.

Não pode ser um cirurgião dentista ou um médico de outra especialidade? Pode, mas na sua formação, as doenças que afetam a mucosa bucal e os ossos maxilares não foram o foco principal de estudo e treinamento. Quando desconfiam que possa ser algo diferente, eles já encaminham o paciente para o especialista. O que não pode é esperar um tempo para ver como fica a situação. Isto é uma prática perigosa para o portador de um possível câncer.

ONDE ESTÃO OS PROFISSIONAIS?

Você tem que achar um destes profissionais, peça ajuda para quem você puder, mas não desista, você precisa ser avaliado por um profissional especializado. O ideal é que ele faça a biópsia no mesmo momento do diagnóstico clinico, para não se perder tempo. Um carcinoma tem milhões de células proliferando toda hora, sem parar. Mas, onde esses profissionais atendem os pacientes?

a) No consultório ou clínica, particular ou pelos planos,

b) Nas clínicas do SUS que estão nos centros de atendimento de especialidades da odontologia e medicina que são municipais, estaduais ou federais,

d) Nos ambulatórios de estomatologia que as faculdades de odontologia oferecem para a sociedade,

e) Nos hospitais que têm ambulatório de estomatologia e atendem pelo SUS e planos de saúde como hospitais de dermatologia, hospitais do câncer etc.

               REFLEXÃO FINAL

Escrevi este artigo depois de ler a pesquisa feita por 11 pesquisadores mineiros liderados por Adriana A. Silva da Costa (Braz. Oral Res. 2023). Avaliaram o tempo decorrido desde os primeiros sintomas até o início do tratamento do câncer bucal e orofaríngeo, para se identificar as variáveis associadas ao atraso no tratamento. Foram incluídos 100 pacientes do ambulatório de cirurgia da cabeça e pescoço de um hospital público brasileiro e acompanhados até o início do tratamento. O tempo médio de espera para o tratamento foi de 217 dias. O intervalo mais longo esteve associado ao atraso profissional, seguido de atraso do paciente na busca de ajuda.

Este tempo de espera de 217 dias (ou sete meses) é simplesmente, impactante!   

Alberto Consolaro 

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru 

consolaro@uol.com.br      

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