AGENDA CULTURAL

15.8.06

Deus tem site, blog, e-mail e MSN
Hélio Consolaro

A fim de se entender, se conhecer
e construir mais comunicação
no teclado se encontrem nossas mãos.
(Diógenes Pereira de Araújo)

Sábado, caro leitor, fiz uma festinha em meu cafofo criativo para o meu computador, sem convidados. Acendi 25 velinhas, enfeitei-o com uma orquídea, porque há 25 anos a IBM colocou à venda nas lojas o computador pessoal, o micro para casas e escritórios.


Naquela época, o Consa andava metido em outras lutas, a política, rezando para um Cristo libertador. E o neoliberalismo já armava a rede para eu me acomodar.
Eu só fui entrar em contato com a máquina em 1993, na antiga Folha da Manhã, cujos computadores eram operacionalizados apenas pelo teclado, sem mouse. Era o XT, tela preta. Também foi em 12 de agosto, mas de 1993, que comecei a escrever diariamente.

Apesar de o computador ser fruto do racionalismo, ter uma linguagem lógico-simbólica, só foi possível meu adultério que dura 14 anos, bigamia tolerada pela Japa, porque me tornei mais holístico, antes até minhas rezas eram racionais.
Agosto, 12, 1981. Pela primeira vez, um computador era fácil de usar e tinha o formato atual.

A tevê é um eletrodoméstico da casa. Enganou-se quem pensou assim. Quem tem um televisor em casa, adquiriu um estilo de vida, pois ele transformou o jeito de conviver das pessoas numa casa, despertou o consumismo. Isso levou Kid Abelha a cantar: “Deus, por favor/ apareça na televisão”. Como escreveu Nélson Rodrigues: “a televisão matou a janela”.

O computador aprofundou isso. Deus agora precisa ter site, blog, e-mail e inscrição no MSN. Há um serviço curioso na Internet. Um grupo de padres das Faculdades Salesianas do Recife começou a atender pela. Ficou mais fácil ir para o céu.

O padre Luiz Eduardo Baronto, criador do site, disse que são feitas apenas orientações mais simples, conversas de apoio e encorajamento e esclarecimento de dúvidas sobre a religião católica. Os casos mais graves são encaminhados para um atendimento pessoal. Logo, teremos confissões on line, institucionalizadas, porque as espontâneas já acontecem.

Há gente que reduziu sua vida ao computador, todos os amigos são virtuais, não há encontro na praça, não se freqüenta fila de banco. Até o amor ficou mais seguro.

Quando o internauta morrer, desgrudar, não sentirá a diferença da mudança de dimensão, porque já vivia na virtualidade. É a prática duma espécie de clausura.
A televisão matou a janela, o computador aprofundou a unimultiplicidade: cada ser humano é sozinho, embora pertença à humanidade, como compôs Tom Zé.

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