AGENDA CULTURAL

15.8.06

Deus é pai
Hélio Consolaro

Ninguém tem convicção de que está vivendo a melhor vida, sempre há a chama da insatisfação acesa em nosso interior. Quando se está bem, reclamamos da rotina. Se hospitalizados, ficamos com saudades dela.

A plenitude é uma eterna busca. Quando parece que a encontramos, escorrega. Como Sísifo, cumprimos a maldição de Zeus.

Hoje é Dia dos Pais. Vejo a vida de meus filhos e me pergunto se fui um bom pai. Num excesso de racionalismo, há gente que pleiteia cursos para que uma pessoa seja um político, mas mães e pais não se preparam formalmente para sê-los. Tampouco os filhos fazem curso antes de nascer. Alguém tem diploma de ser humano?

Não vou medir o meu sucesso pelo presente que receberei hoje. Nem sei se isso acontecerá. Avalio o meu desempenho por aquilo que Menininha e Meninão são, como enfrentam a vida.

Tomara que meus filhos tenham uma visão boa de Deus, principalmente, quando ouviram pela primeira vez aquela frase feita: Deus é pai!

Mas se sou pai, também sou filho. Filho de pais vivos. Se levar em conta que sou um cinqüentão, é uma bênção. E só fui entender essa função quando me tornei pai. E também não tenho a certeza de que eu seja um bom filho.

Com o tempo, aprendi a conviver com essas dúvidas, eliminar ansiedades, pois não inventei esse mundo nem pretendo ser perfeito. Sou assim, que me aceitem como sou, com todos os meus defeitos, não poderei ser tão diferente, vamos apenas aparando as rebarbas no decorrer da vida. Vou levando como Deus é servido, na seqüência de um dia atrás do outro.

Outro dia, no Colégio Salesiano, o professor Amadeu Zanon, do ensino técnico, pediu-me um pedacinho de minha aula para falar do Curso de Robótica. E rapidamente disse sobre projeto, equipe, gerenciamento e avaliação.

Depois de ele sair da sala, fiquei com um olhar meio perdido. Assim, perguntei aos alunos se cada um era um projeto que tinha dado certo, porque um filho ou uma filha é um projeto dos pais que ganha autonomia.

A partir daí, o filho ou a filha elabora seu próprio projeto, ignorando, às vezes, o original, paterno / materno, causando uma grande frustração nos pais que se consideravam donos dos filhos.

Meus alunos não souberam responder. Eu disse-lhes que não se preocupassem, porque nem eu, com o peso da idade, tinha resposta para aquela pergunta. Não entenderam meus olhos marejados.

Então, caro leitor, somos uma manada errante, perdida nesse planeta, meio sem destino, como búfalos em disparada, nos colocando até como imagem e semelhança de Deus. Então, arranque a máscara que a sociedade lhe deu, e seja você mesmo, nem que seja parecido com o capeta.

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