AGENDA CULTURAL

15.8.06

Andar na moda
Hélio Consolaro


Você sabe, caro leitor, que urubu voa longe. Zeca me trouxe uma carta no bico, como se fosse urubu-correio. Era uma cartinha de uma leitora de cidade da região, pequena, meio acanhada, mas onde o povo leva casamento a sério. Pelo menos, a cerimônia.

A signatária, uma leitora, usou os préstimos do Zeca, dizendo:

- Vai, Zeca, entregue essa sugestão de Entrelinhas para o Consa.

Minha leitora não tem muita coisa para fazer no sábado à tarde, está de nenê novo, por isso ela fica com o filho na praça central da aldeia, bem defronte à igreja matriz, urubusservando os casamentos do município. E de lá, ela vê os desfiles de moda, fashion week local. E me mandou esse relato:

“ Estar na moda é até interessante, não para mim, moda às vezes me dá enjôo, pois cada um tem seu estilo, e muita gente a segue para manter determinada posição social, que, às vezes, nem tem tanto para isso, e daí se pode analisar o estrago.

A costureira daqui vai a Araçatuba, compra algumas revistas e tira os moldes. Misturar cores, estampas, estilos são as modelagens desta estação; como cintura marcada, rendas, laçarotes e estampas tribais, mas nem toda mulher tem corpo para isso.

Há mulheres que ficam parecidas com árvore de natal, outras se parecem debaixo de lona de circo. Algumas ficam parecidíssimas com embalagem de batata frita.

As equilibristas são as mais gordinhas (nada contra), pois teimam em usar salto alto e não sabem andar trepada (nem têm corpo para isso), por isso ficam com andar de papagaio.

A mulher mágica usa roupas que marcam, mas o corpo não é de pilão, mais parece um saco de arroz amarrado ao meio. Na verdade, querem, pelo menos, mostrar a riqueza das “tuberosidades calipígias”, verdadeiras Raimundas. Ou debutam o contorno da genitália, mostrando como é testuda. E para completar o quadro, dependuram no pescoço laçarotes, como se fossem palhaços.

Caro, Consa, vi uma mulher que abusava tanto da chapinha que parecia um leão cuja juba fora transformada em crina. Tudo isso fica muito artificial, parece um produto de má qualidade com embalagem estrambótica! Mulheres simples se transformam em peruas e se acham.

Estou indignada com o que vejo, não dá pra seguir todos os padrões da moda. Coloque aí, Consa, porque há gente que não tem desconfiômetro, é ridículo demais ... Quem sabe com uma Entrelinhas... Não sou nenhuma expert em moda, mas tenho o meu próprio estilo.”
Já pensou, caro leitor, se escrevesse o nome da leitora nessa Entrelinhas? Com certeza, teria que se mudar da cidade. E se declinasse o nome da aldeia, me tornaria persona non grata do lugar.





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