AGENDA CULTURAL

7.10.06

As três fases do bêbado


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos nesta sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, corriam como doidos, atendendo aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma cerva bem gelada!

- Uma porção de calabresa!

Seu Sugiro, o japonês churrasqueiro, gritou da calçada:

- Garantido, né? Espetinho de filé miau é mais gostoso, não?

Dona Assunta administrava a cozinha do boteco, a filha Amelinha mais marcava do que recebia na caixa. Assim estava montada a microempresa brasileira.

Subversivo chegou meio trolado. Trazia uma espécie de aquário. Pequeno como tal, mas enorme como copo. Ele pôs a vasilha sobre a mesa e disse:

- Vou seguir a recomendação das propagandas de bebidas alcoólicas, beber com moderação. Apenas um copo!

Pediu ao Caneta Louca:

- Um litro de conhaque, por favor! E despejou todo o seu conteúdo naquele copo gigante!
Burguês ficou condoído com a situação de Subversivo, se propôs a conversar com ele durante a semana. Não podia continuar assim, se matando.

Magrão disse que o bêbado tem três fases:

- Fase do macaco - o indivíduo apresenta um comportamento inquieto, falante, mas ainda consciente de seus atos e palavras.

E Magrão continuou:

- Fase do leão - quando o embriagado torna-se nocivo: fica voluntarioso, age irrefletida e violentamente.

E Burguês completou:

- Fase do porco - dá-se a embriaguez completa, sem mais freios, é o bêbado contumaz. Precisamos socorrer o Subversivo!

Houve um silêncio geral. Cada um pensando em sua vida. Em vez de rodada por conta da casa, Burguês passou o chapéu, recolhendo doações para que ele pudesse visitar a casa de Subversivo, providenciar provimentos e outras coisas para o amigo.

Para não dizer que era um traficante de drogas insensato, Faca Amolada serviu guaraná Paulistinha gratuitamente.

Foi um tal de cuspir o líquido fora, com o grito:

- Isso faz mal à saúde, cara! Enferruja!

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