Hélio Consolaro
Hoje, caro leitor, está a ler Entrelinhas que escrevi na semana passada para poder viajar pelos caminhos de Mário Quintana, em Bento Gonçalves, RS, onde se realiza o 14.º Congresso Brasileiro de Poesia, de 2 a 7 de outubro.
Fiz serão, trabalhei demais para transformar dias úteis em inúteis. Deixei sete crônicas para o deleite de Ágatha Urzedo, editora do caderno Vida, que gosta de ter estoques de Entrelinhas, mas não deixei de cantar.
Cantarolei o tempo todo para que você, caro leitor, tivesse textos suaves e alegres.
Se houver tempo, entre uma poesia e outra, escreverei Entrelinhas especiais, como se fosse um correspondente do amor, da vida, da poesia no congresso.
Enquanto você está no trampo, juntando vintém, como a formiga, sou a cigarra que acumula Entrelinhas para descansar depois.
Participo do 14.º Congresso Brasileiro de Poesia, embalado pela musa, pelo amor, pela poesia.
Talvez, caro leitor, você, como formiga, queira mandar o La Fontaine, o cara que escreveu a fábula, para pqp, mas de nada adianta, porque a felicidade, para muitos, está em ver a panela cheia.
Alguns viajam, curtindo os caminhos, vendo as paisagens, tudo que ele tem de belo; quando outros, mais práticos se cegam, porque só querem chegar, não curtem a viagem. E a chegada é um túmulo de boca aberta.
Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas. Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha, nem desconfia que se acha conosco desde o início das eras. Pensa que está somente afogando problemas dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar inquietação do mundo! (Mário Quintana)
Estou inquieto, caro leitor, e sei que não sou o primeiro nem serei o último a fazer da vida uma poesia, como fez Quintana com seus 88 anos, mas as contas a pagar me puxam para o chão.
Quintana vivia sozinho em quarto de hotel, mas alegrava as pessoas, ensinando-as a tirar o mel do cotidiano, visitar cada flor, mesmo mirrada, como faz o colibri.
Se minha vida é a sua, a sua é a dele, e a minha repete na de todo mundo, o poema me faz identificar, chegar a mim mesmo, descobrir na despensa da alma uma vasilha com açúcar.
O poeta é um espião, e o poema é uma câmera fotográfica escondida.
Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... E não a gente a ele!
(Mário Quintana)
Você, caro leitor, pensa que a vida reduz a isto: consumir. E eu bebericando vinho em Bento Gonçalves, ouvindo a cigarra a cantar. Se o Consa gostar e voar pelos caminhos de Quintana...
Viver é melhor que sonhar, mas sem sonho não vale a pena viver.
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