Hélio Consolaro
Amanhã, caro leitor, será Natal. Não irei escrever sobre Menino Jesus, porque ele não é uma criança narcisista como nós. Se há um desejo divino, este pede que sejamos felizes.
Hoje, haverá ceia, um encontro de pessoas de seu relacionamento, com gente que viu você nascer. Não despreze essa festinha, não seja arrogante, é um momento de encontro e ternura, em que as energias se interagem. No futuro, sentirá saudades desses momentos.
A vida, caro leitor, é feita de relacionamentos, as coisas, o dinheiro, a propriedade fazem parte do cenário, devem ter apenas o condão de melhorar essa alegria de estarmos com o outro. Não caiamos no consumo fácil, mas também não sejamos pães-duros. A dívida e a avareza roubam-nos momentos felizes da vida.
Uma amiga me contou que ela e seu marido visitavam uma livraria. Como gosta de ler, separou alguns livros, queria comprá-los, seria uma carícia para si mesma (como é bom se acariciar de vez em quando), mas o marido pôs gosto ruim em seu desejo, lembrando-lhe que havia dívidas a pagar.
Ela ficou chateada, deixou os livros para espanto do caixa, e o marido, por ter provocado esse mal-estar entre ambos, não ficou menos pior. Saíram da livraria, ele voltou lá e comprou os livros, mandou embrulhá-los para presente. Na entrega, os dois sorriram, voltaram às boas.
Não é à-toa, caro leitor, que o slogan do cartão VISA é derivado do carpe diem: “Porque a vida é agora”: gaste agora e pague depois. Assim, minha amiga não se acariciou sozinha, teve também as mãos do marido.
Nossa trajetória devia ser uma flecha em movimento, incendiada, que cortasse o universo, sem chegar a lugar nenhum, apenas, de repente, não mais que de repente, apagaria o fogo e nada sobraria, nenhum carvãozinho. Se vivêssemos assim, a rotina jamais nos pegaria com sintomas depressivos.
Mas viver assim traz transtornos, mudam-se os paradigmas, escandalizamos, incomodamos. As pessoas têm medo do ridículo, mas escreveu Fernando Pessoa: todas as cartas de amor são ridículas, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Então, caro leitor, por que temos tanto medo do ridículo? É viver a vida plenamente!
Ao ser uma seta ardente correndo o infinito, surpreendemos, a nós e aos outros. Deus não está amarrado a convenções como o apresentamos nas igrejas. Cristo desafiou os judeus com suas regras esquadrinhadas, apresentando-nos uma vida mais aberta, arejada, sem medida.
Então, caro leitor, não lhe escreverei a frase feita “feliz Natal”, inventarei outra, com mais frescor: que a vida lhe seja uma flecha ardente.
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