AGENDA CULTURAL

5.4.12

Pôr a paixão na quadratura

Hélio Consolaro
 

Muitos tentam definir a paixão, esse sentimento de a pessoa estar gamada pela outra, de arrastar sozinha, sem ligar qualquer motor, a não ser o do amor, dez vagões e a locomotiva por uma mulher ou por um homem. Dizem os românticos que a vida não foi vivida plenamente se nunca se viveu uma forte paixão por alguém.

Confesso aos racionalistas minha fraqueza: já vivi algumas paixões por mulheres, quando fiquei meio ridículo, mas escandalizo ainda mais: devia tê-las vivido com mais intensidade e em maior número.

Chorei, caí de joelhos, declarei amor à mulher na frente de seu noivo (no tempo que existia noivado), como bom romântico, sempre tais amores foram impossíveis. O relacionamento durou mesmo quando existiu uma paixão mais serena.

Existe paixão serena? Não seria um paradoxo, como a exigir calma de um furacão? Talvez o nome seja outro: ligação.

Apaixonar-se na maturidade (ou na melhor idade) se torna mais ridículo ainda aos olhos céticos de quem diz que “amor é uma flor roxa que nasce no coração dos trouxas”. Há gente que menospreza as pessoas da terceira idade, achando que elas perderam a tesão de viver e nem fazem mais sexo. Ledo engano... O fogo ainda queima a lenha envelhecida.


Uma gata de 40 ou de 50 anos, dependendo da idade do gato apaixonado, claro. Os coroas precisam tomar cuidado para não viver o drama da atriz Suzana Vieira. O militar garotão, o mais recente amor da atriz global, usava a “veinha” para ter grana e conquistar as gatinhas. Quem leu os jornais em dezembro soube disso.

O problema todo da vida é que se quer enquadrar a paixão, pô-la numa quadratura, a cela chamada casamento. Dois jovens que se entreolharam e viveram um amor à primeira vista, que duraria algum tempo, precisa ser institucionalizado, com todas as implicações legais, e vivido eternamente, como se o sempre também não acabasse.

Não quero ser dogmático, dizer que nenhum casal viveu o amor eterno, como aconteceu no filme “Diário de uma Paixão”, mas está cada vez mais difícil isso acontecer com a efemeridade da sociedade de consumo. Carpe diem! ? Vivamos sem sacrifício...

Aquilo que os celebrantes de casamentos dizem nas igrejas (O que Deus uniu, o homem não separa), não é uma bênção, mas uma praga, porque uma vez casados, mesmo que separados, o casal sempre tem problemas a resolver.

Não há lei e nem quem obrigue duas pessoas ficarem juntas para sempre, cada casal tem o seu ritmo, pois “nada do que foi será/ de novo, do jeito que já foi um dia”. Descobrir isso é o segredo da vida.



Escrevi esse texto em 15/01/2007, quando vivi um período bem particular de minha vida.




2 comentários:

Anônimo disse...

Hálio....sou separada e concordo ipsi literis com seu texto!!!BRAVO!BRAVO!

Anônimo disse...

Belo texto e na minha opiniao, muito corajoso