AGENDA CULTURAL

5.4.12

Mão que apedreja


Hélio Consolaro
Hoje, no calendário litúrgico da Igreja Católica, comemora-se o Domingo de Ramos. Ele abre a Semana Santa, relembra a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, poucos dias antes da paixão, morte e ressurreição.

O povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Jesus passava montado num jumento. Com folhas, o povo o aclamava “Rei dos Judeus” E assim despertou nos sacerdotes e mestres da lei muita inveja, desconfiança, medo de perder o poder. Começa então uma trama para condenar Jesus à morte de cruz.

Façamos antes, caro leitor, uma exploração política do fato.
O povo o aclama cheio de alegria e esperança, pois a multidão acreditava que Jesus iria libertá-la da escravidão política, econômica e religiosa imposta pelos romanos.

Essa mesma multidão, poucos dias depois, manipulada pelas autoridades religiosas, o acusaria de impostor, de blasfemador, de falso messias. E incitada pelos sacerdotes e mestres da lei, exigiria de Pôncio Pilatos, governador romano da província, que o condenasse à morte. Esse é o caminho de todo aquele que se posa de salvador.

Percebe, caro leitor, que o ser humano é repetitivo, pouco muda no enredo de suas ações, porque se repetiu, se repete e repetirá per seculae seculorum (em latim, como gosta o papa Bento 16).

Poucos católicos pensarão no coletivo nesta semana que adentra, na dimensão política do Domingo de Ramos, cada um pensará em si, apenas em si, porque aprendemos a velha lição, desde muito cedo: cada um por si e Deus por todos, como se cuidar dos outros fosse um pecado.

Então, ficaremos compungidos, choraremos a desgraça humana em encenações da crucificação, relembraremos que a trajetória de Cristo não é muito diferente da nossa, apenas muda a intensidade ou o foco. Depuraremos nossa alma, classificando este mundo um vale de lágrimas.

Será que estou escrevendo bobagem, caro leitor? A nossa raça é tão dignificante em certos momentos, dá até orgulho de ser gente, mas em outros, eu, por exemplo, só posso responder por mim, me sinto pior que uma barata.

A pequenez da alma humana, a minha também, é como a multidão que aclama triunfalmente a entrada de Jesus em Jerusalém, mas depois se comporta como Pedro, negando o mestre por três vezes.

Há momentos em nossa vida que sentimos heróis, como Jesus neste Domingo de Ramos, mas mal sabemos, como escreveu o poeta Augusto dos Anjos, que o “O beijo, amigo, é a véspera do escarro. / A mão que afaga é a mesma que apedreja”.

Semana Santa, tempo de olhar-se por dentro, buscar o porão.


Crônica escrita em 27/03/2007

2 comentários:

Jandira disse...

Tem toda razão, caro Prof. "Cabeçudo". Não consigo entender como pode-se chamar de "ser humano" certas criaturas que perambulam por aí. Exemplos?? Só abrir qquer jornal e procurar as notícias com as manchetes maiores!!
É nisso que nos tornamos, sim, nós, pq entendo q somos socialmente e, portanto, solidariamente responsáveis pelas atrocidades que acontecem...

Anônimo disse...

"Nada do que foi será..." Você escreveu bobagem. Não é mais o mesmo. Péssimo texto, hein!
É a derrocada do escritor. Quem é você... Que peninha. Acabou a inspiração.