AGENDA CULTURAL

11.2.07

Como nossos ancestrais

Hélio Consolaro

A forca era uma coisa do passado, dos tempos de monarcas despóticos, quando a vontade do rei era lei. Muita gente achou que falar de forca era voltar no tempo, quando existia princesa, príncipes, fadas, bruxas. E não é que aquela desgraceira ressuscitou? Toda essa antigüidade foi registrada por tecnologia de ponta, moderna: câmera de um celular.

Como o governo americano cuida dos direitos humanos e da democracia no mundo, certamente, exigiu que o cadafalso do Iraque tivesse uma rampa para que os eventuais cadeirantes subissem-na sem dificuldades e sofrimento. Talvez, pensaram que Augusto Pinochet fosse usá-lo.

A pena de morte é um instrumento de vingança. George Bush matou mais gente, mas ele é um vencedor, enquanto Saddam foi vencido. Acredito que a justiça é uma forma de vingança institucionalizada, por mais que ela seja neutralizada por tribunais.

É a predominância da lei de talião, meio disfarçada, vestida de requintes: olho por olho, dente por dente. Muita gente admite a pena de morte, mas rejeita o enforcamento, alegando que existem métodos mais modernos, como cadeira elétrica e injeção letal.




O livro de Carlos Marchi, "Fera de Macabu", narra a história da última condenação legal à morte por enforcamento no Brasil. Nesse episódio, houve um erro na condenação, descoberto posteriormente, a partir daí D. Pedro II passou a comutar todas as condenações atribuídas a homens livres e depois a escravos. A pena de morte foi extinta no Brasil em 20 de setembro de 1890, no governo republicano.

Nós, brasileiros, sempre vimos gente inocente sendo condenada à morte barbaramente: Jesus Cristo, Tiradentes. Sentir dó é bem nosso. Ficamos chocados, pelo menos eu fiquei, com o enforcamento de Saddam Hussein e seus comparsas.

Esse método de condenar pessoas era visto como uma "morte suja", pois ocorria libertação de fezes ou urina, porque a pessoa perdia a continência. Esse tipo de morte ofendia a moral do condenado e até mesmo a de sua família. Muitos cometeram suicídio antes de ir ao cadafalso.

Ainda somos como nossos ancestrais. A vida mudou, mas a essência é a mesma, apenas queremos modernizar a pena de morte.

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