AGENDA CULTURAL

16.2.07

Um imenso carnaval

Hélio Consolaro

A folia está chegando. Nem tanto, porque o bumbo do carnaval nos tempos modernos bate no ano inteiro: nos ranchos, botecos, churrascos de fim de semana, nos fundos de quintais, lanchonetes, restaurantes, motéis.

Não há mais aqueles 360 dias contidos e cinco dias de folia, dominados pelo capeta, quando se bebia pra valer, se fazia o que não devia, soltava-se a franga. E nove meses depois, nascia uma leva de bebês, filhos bastardos.

O capeta tomou conta, a virgindade não é tão valorizada, namorar em casa é deixar de ter despesas com motel e a vida virou um imenso carnaval. Poucos se recolhem em retiros espirituais. A única restrição é usar camisinha.

Carnaval é muitas bundas e seios na televisão, um feriadão esticado, folia ensaiada para turista ver. E é bem melhor assim, a hipocrisia é menor.

Nunca fui um folião, nem tenho paciência de ficar vendo pela televisão a Mangueira entrar na avenida. Há gente que vê a Mangueira entrar em todos os carnavais. Querendo me animar mais para o carná, entrar no clima, no domingo, fui a um baile pré-carnavalesco na sede da Associação Cultural Afro-Brasileira de Araçatuba, com animação da orquestra municipal de sopro, com seu cantor vestido de branco.




No convite, a Duxtei Ìtavo me disse:

- Só marchinhas, como antigamente!

E cheguei, ouvindo:


Ó jardineira porque estás tão triste
Mas o que foi que te aconteceu

E lá estava Duxtei, fantasiada de Carmem Miranda, junto com Marly Garcia, Alexandre Carvalho, Antônio Luceni, Vítor Lemos. Toda a cúpula da secretaria municipal de Cultura e Turismo.

E a terceira idade sacudindo a pelanca:


Quanto riso! Oh! Quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão

Imaginava que fosse mesmo um baile à moda antiga. E constatei isso quando cheguei ao local. Era um barulho medonho de juntas sem lubrificação na pista: nhec-nhec. Rec-rec. E eu, em convalescença daquele tombo, nem pude pôr as juntas para funcionar.

Casais de idosos, fantasiados, um bloco de gente animada e foi a estréia do casal real em 2006: Ronaldo Luiz Silva Bonfim, meio subnutrido; e Sandra Cristina Santiago de Souza, uma rainha afro-brasileira.
O teu cabelo não nega, mulata,
Porque és mulata na cor (...)

Também pensei em encontrar a negrada toda por lá. Afinal, o baile foi realizado na sede deles. Que nada! Havia mais brancos... Até japoneses... A maestrina Mizue Sawada Otsuka, que caiu no samba.

No Brasil, essas coisas são tão misturadas que logo teremos um branco presidindo a Associação Cultural Afro-Brasileira de Araçatuba. E viva o carnaval!

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