AGENDA CULTURAL

16.2.07

A paz e o passarinho




Hélio Consolaro

A bandeira vem chegando/ Com ela o nosso carinho/ As fitas esvoaçando/ E a pomba no seu ninho

Todos nós queremos a paz, mas ela tem o jeito de cada um, com suas idiossincrasias. Não existe uma paz que contente a todos. A paz de um significa a perturbação para o outro: a minha liberdade termina onde começa a do outro.


Desta piada, tira-se essa conclusão. Todos perseguem a paz, querem-na, mas por caminhos diferentes. A pomba é o pássaro que melhor encarna a paz, pelo menos antes da gripe aviária.
Canta o bardo sertanejo: Voa pombinha branca, voa/ diz ao meu bem para voltar/ diz que eu estou triste chorando/ pra nunca mais me abandonar.


A mulher, por exemplo, apazigua qualquer passarinho guloso, meio estressado, hiperativo, balançando a cabeça como se fosse uma lagartixa. Ela é a senhora da paz.

Já o homem busca constantemente a paz para o seu passarinho, porque enquanto isso não for possível, ele corre atrás de uma mulher à procura de sua paz. E nem sempre é bem-sucedido.

O homem solitário, por exemplo, não deixa o seu passarinho em paz, pratica o jogo dos cinco contra um com facilidade. Já a mulher solitária conhece o passarinho, mas não sabe a paz que ele lhe pode proporcionar, por isso fica como a Bela Adormecida, esperando o Príncipe Encantado. Ou, então, apela para o vibrador, um arremedo de passarinho.

A mulher divorciada, coitada, perdeu a paz e o passarinho. Está em puro abandono e desespero. Em situação semelhante está a viúva, que se lembra do passarinho, mas morreu, não vive em paz por vontade divina.

A mulher casada, amigada, acompanhada pensa que tem assegurada a paz e o passarinho, mas como o caráter da paz é a solidariedade, há sempre com quem dividir o seu passarinho, porque o egoísmo não é característica de quem está em paz.

O viúvo perdeu a paz do passarinho, está à procura, quer encontrar a paz novamente. Já o casado, amigado, acompanhado está com seu passarinho em paz, mas como é solidário e inquieto, procura repartir a paz com outras mulheres. Afinal, há sete mulheres para cada homem e ele não vai desperdiçar tal oportunidade.

O velho, coitado, tem o passarinho em paz, sabe que nunca mais irá perturbá-lo. Tem certeza de que aquilo só serve mesmo pra mijar.

A velha assanhada já não tem mais o passarinho, mas fica só pensando nele, com saudades... Imaginando o passarinho que cada rapaz tem por baixo das calças.

Falta mexer com uma categoria, coluna do meio: a bichona, velha ou nova, quer a paz pela frente e o passarinho por trás.

Viva Freud, que reduziu a vida ao sexo, no seu 150º aniversário!

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