AGENDA CULTURAL

8.3.07

No chão encantado do Varanda


Hélio Consolaro

Reinventar a vida é um trabalho de engenharia emocional. Não sei viver burocraticamente, “empurrar a vida com a barriga”, esperando a morte chegar.

Nem meu magistério de 35 anos escapou dos sacolejos da reinvenção: já fui sonhador em sala de aula, caí no pragmatismo e hoje recuperei a poesia de ensinar.

Como não tenho herança pra deixar a ninguém, o desapego é maior. Vivo a solidão humana que me é inerente, mas me protejo das intempéries no outro, como fazem os pingüins.

Não sou o bom, nem quero ser exemplo pra ninguém. Já foi o tempo em que eu pregava nas igrejas e carregava bandeira de partido político. Não desacredito das coisas, apenas procuro viver outros papéis.

Já fui office-boy; um cristão que acreditava no socialismo. Enveredei-me pela política institucional (e me saí dela ileso). Atuei fortemente em sindicato. Participei de diretório partidário. Talvez, hoje, seria um membro do governo federal, se tivesse continuado. Mas um dia, acordei e me disse: basta, chega, não quero isso pra mim.

Fui pedir a Wilson Roberto dos Santos, editor-chefe da extinta Folha da Manhã, em 1993, que me permitisse escrever crônicas diariamente. Por lá fiz meus primeiros exercícios de croniqueiro, passando para esta Folha em 1995. E continuei a me reinventar.

Assim, em 2003, depois de organizar as empregadas domésticas na década de 80 (ser odiado pela classe média) me tornei presidente da Academia Araçatubense de Letras. Em 2006, não quis saber de reeleição.

Aprendi que o ser humano é o mesmo em qualquer lugar e classe social. Assim, em maio de 2006, fui ao Varanda Eventos, procurei a Maria Cristina, para alugar o local ao jantar lítero-musical, anual, da Academia. Em dezembro, primeiro, descobri o encantamento de seu chão, ao dançar leve e solto em sua pista de dança.

Em fevereiro de 2007, voltei lá, no aniversário da Cidinha Baracat. E confirmei: o chão do Varanda é mesmo encantado, porque fez este pesado Consa dançar de maneira esvoaçante com sua princesa.

E nessa dança de dois pra lá e dois pra cá, mudei a minha vida pra melhor, porque o sorriso é um agradecimento à vida. Descobrir no outro as suas virtudes é um exercício de generosidade que nos converte.

Não sei se haverá gente que carregará o esquife em meu velório. Mais importante será amigos e parentes dizerem entre conversas e piadas na capela funerária que o morto (este croniqueiro) viveu plenamente a vida, foi seu protagonista. O amor foi vivido enquanto durou.

Nasci por fórceps, como se não quisesse nascer, abraçar a vida. Já que vim, gritei que queria tudo dela. Essa está sendo a minha vingança.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Hélio! Parabéns... Felicidades a vc e sua princesa! Viver é mesmo uma eterna reciclagem (os ambientalistas devem adorar isso... hehe). Bjokas e abração!

Blog da Joana Paro disse...

MEU AMOR... PRÍNCIPE DOS MEUS DIAS... EMOCIONA-ME SEMPRE!
QUE NOSSA DANÇA PERMANEÇA LEVE E ENCANTADA, MESMO QUE NOSSO CHÃO APRESENTE PEDRAS NO CAMINHO!
LINDA CRÔNICA! BELAS PALAVRAS...
TE BEIJO COM AMOR.
JOANA

Unknown disse...

Olhos de MEL...princesa aqui e acolá...convite realizado em SP e dança em Penápolis!
Bem, existe "princesa" e "princesa". Aliás, não quero ser nobre no vocativo, o importante é a nobreza do sentimento...

Princesa com amor "virgem" não se tem mais o encantamento de outrora...o que vale é o rola-rola das princesas que de tudo rola!
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