AGENDA CULTURAL

13.3.07

Poeta que cantou o amor


Hélio Consolaro

Vou iniciar esse bate-papo sobre poesia, fazendo uma pergunta: quem foi mais poeta, Vinícius de Moraes ou João Cabral de Melo Neto? O leitor pode dizer que não sabe, pois não conhece nem um, nem outro.

Posso lhe dizer, meu caro, que o Vinícius fez de sua vida poesia, desapegado, deixou o terno e a gravata da diplomacia por camisa e calção de banho da poesia, abandonou o Itamaraty pelas praias de Copacabana e Itapoã, trocou o formalismo do papa, pela espontaneidade da mãe Menininha do Gantois.

O cara pôs o seu bloco na rua, soltou a franga aos 40, libertou aquele Dionísio que estava encarcerado nele. Sua vida é uma lição de como viver com paixão.

Se você, caro leitor, quiser conhecer melhor a vida do poetinha, veja Vinícius – documentário do diretor Miguel Faria Jr., 2005. Não mostra algo novo sobre a vida e a carreira do artista, mas serve para celebrar aquele que é um dos mais importantes poetas e compositores do Brasil.

O documentário está em DVD duplo. No primeiro, a vida dele, suas mulheres, que não foram poucas, seus principais parceiros, depoimentos emocionantes, muita música e poemas. No segundo, as entrevistas e principais reportagens cinematográficas e televisivas sobre ele.

E o que falar de João Cabral de Melo Neto? Escreveu Morte e Vida Severina, que não é pouco, mas que a menosprezou em vida, dizendo que foi a sua pior obra. Os poemas mais bem valorizados por ele próprio, só Tito Damazo, em Araçatuba, e José Fulaneti de Nadai, em Penápolis, os conhecem.

Nos poemas, escondia a subjetividade, como se fosse possível não deixar as impressões digitais da alma numa obra de arte, queria uma poesia objetiva, como os cálculos de um engenheiro. Era Apolo personificado. Na verdade, tirando Morte e Vida Severina e outros poemas esparsos, como Tecendo a Manhã, um poeta sem graça.

Chamou-me a atenção na vida de João Cabral é que era um sujeito depressivo, atormentado por uma dor de cabeça que não o deixava de forma alguma. Viveu dez anos a mais que Vinícius, mas viveu pouco.

Enalteço Vinícius de Moraes porque me identifico com ele, mas o mundo não é feito de um tipo só de gente ou de poeta, precisamos da diversidade. Os dois são poetas do mesmo nível, para gostos diferentes.

Se você, caro leitor, quiser brincar de poesia, fazer um jogo com as palavras, participe da oficina que estarei coordenando a partir da próxima terça-feira, 20 de março, às 20h, na sede da Academia Araçatubense de Letras, na rua Joaquim Nabuco, 210, centro de Araçatuba, quando estabeleceremos em conjunto o calendário das atividades. Conto com você.

Nenhum comentário: