AGENDA CULTURAL

10.5.07

Papa na semana da mama


Hélio Consolaro

Na semana da mama, o papa chega e toma conta da mídia. A mama só foi lembrada nas propagandas. Bem que o papa poderia ter dito, para deixar os presidentes das associações comerciais contentes:

- Domingo é Dia das Mães, compre um presentinho para a sua mama.

O papa, como sempre, vem de vez em quando ao lar, mas quando chega é um furor, dá ordens, fala o que pode e o que não pode, determina limites (para usar a linguagem do momento). A presença paterna é fogo! A mama e os filhos escutam, ficam consternados; quando ele vira as costas, fazem como deve ser feito. Tudo é carnaval!

Sempre foi assim abaixo da linha do equador. Até inventamos a expressão “para inglês ver” que significa “para efeito de aparência, sem validade”. Quem nos ensinou isso foram os portugueses.

Em 1808, quando a família real chegou ao Brasil, ainda colônia, a cidade de Salvador, então capital, estava iluminada e Dom João 6.º comentou que a recepção festiva feita aos ingleses, aliados e protetores dos portugueses, demonstrava que os brasileiros o recebiam calorosamente. Virou, depois disso, símbolo de burla nacional, em que são utilizados vistosos aparatos para enganar. Esquentar a cabeça pra quê?

Por colônia de um voraz Portugal, não havia outra saída. Até inventamos o “santo do pau oco” para se livrar da derrama, onde se escondiam diamantes e ouro para que os fiscais da coroa não cobrassem o 1/5. Que santo pesado! Mas quem ia duvidar do santo? É aquele jeitinho brasileiro de não pagar Imposto de Renda.

Esse jogo do faz-de-conta são armas dos dominados. Enquanto o gato está presente, os ratos se comportam como se ele fosse uma autoridade. O felino vira as costas, os ratos passeiam, fazem a maior festa...

Coitado! O papa Bento 16 é alemão, em que pau é pau, pedra é pedra, criado naquele rigor: entre o ideal e o real há pouca distância. E nós somos a corruptela latina.

Roma, a matriz do latinismo, já é uma perdição, imagine a filial América Latina, com pitadas desse jeito bem brasileiro... Nós temos a prática e a gramática, aquela coisa platônica. Devia ser assim, mas nós fazemos assado, sem desvalorizar o ideal.

Camões cantava o amor puro em seus sonetos, mas era um “putanheiro” de mão-cheia. Já que não se encontra o ideal, só está lá no céu e nas ideologias, então vivamos o real com todas as suas contradições.

E assim o papa falou, falou... Enchemos os horários de tevê e páginas de jornais e revistas, daqui a uma semana, voltaremos todos a fornicar. Afinal, o espírito é fraco, e a carne vacila!



.

Um comentário:

Blog da Joana Paro disse...

A coragem é sua marca, meu bem! Coragem de trazer à luz temas polêmicos e expor seus próprios princípios! É por isso que admiro e te gosto cada vez mais!
Beijo cheio de "graça"!
Parabéns!