AGENDA CULTURAL

7.6.13

Festa junina


Hélio Consolaro

Através de um galho de acácias lilases, meio escondido, o sertanejo observava a festa junina no clube do patrão, na cidade. Tudo era artificial. As flores foram feitas de papel, os galhos estavam secos. A paçoca fora comprada no supermercado, os músicos tocavam rock, música country e pagode. De vez em quando, saíam alguns rasqueados num aparelho que parecia piano, mas que imitava bem a velha sanfona de "seu" Juca.

A fogueira era apenas um enfeite, sem ninguém ao seu redor. Um monte de paus bem ajeitados, com papéis vermelhos e lâmpadas acesas. Ninguém se esquentava nela, porque ela era fria, até no clima faltava autenticidade, pois fazia calor naquela noite, nem parecia mês de junho.

Havia pipoca à vontade, estourada num aparelho eletrônico. Não exalava aquele cheiro delicioso. Mas não era uma festa de companheiros, porque tudo era vendido, quem não tivesse dinheiro ficava chupando dedo. Dona Jovita, sim, fazia festa boa no São João. Pouca variedade, mas o que tinha era dado.

Essa festa atual era sem roda em volta da fogueira, sem papo, cada família ensimesmada em sua mesa. Não havia cachaça, só bebidas enlatadas. Compravam-se as fichas, e as coisas eram pegas em vários balcões. Experimentou o quentão mandado pela patroa, que não era tão bom como aquele da fazenda.

O salão era tão bonito como aqueles que aparecem na televisão, tudo nos trinques. Era gente fina imitando pobre. Estava muito sem graça, mas empregado não tem desejos, só faz as vontades alheias.

As moças até que eram bonitinhas, caipirinhas, mas os rapazes da roça não se vestem tão mal quando vão a festas. Falavam tudo errado, esculachando a gente da roça. Pareciam mais mendigos do que roceiros.

A festa tinha casamento, como se fosse festa de casório. A moça esperando menino, o pai com espingarda na mão ao lado do noivo, para que ele não fugisse; o padre era moderninho, sem batina, falando besteira. Não se sabia se era padre ou pastor, uma figura misturada, meio holística. De repente, gritava: "Aleluia, irmão!" e pedia dinheiro. Brincava com coisa séria.

Não. O sertanejo desceu os galhos floridos de acácias e foi embora. Definitivamente, gente pobre da roça não se comportava daquele jeito! Aquilo era um arremedo. Só restava saber se toda aquela alegria cheia de algazarra era verdadeira, morava mesmo no coração.
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