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Hélio Consolaro
A infância, caro leitor, é um determinante forte de nossa vida, por isso os poetas sempre recorrem a ela como fonte de inspiração.
Ando sempre à busca de uma fruta de meu tempo de moleque, às vezes, me frustro, como aconteceu quando reencontrei o jatobá e a macaúba. Que frutas bobas! Só moleque de sítio, com dentes próprios, para gostar daquilo... Boca cheia de próteses não suporta mais frutas pastosas e gosmentas.
Como dizem as pessoas mais antigas, no “nosso tempo” de criança, fazíamos os brinquedos, aprendíamos mais. E ter um caminhãozinho parecido com o de verdade era nosso sonho. Não existia plástico, era tudo feito na madeira maciça, no prego, sem cola.
Os pais não compravam brinquedos. Por falta de grana ou porque não valorizavam o lúdico, achavam que criança era um miniadulto, tinha que trabalhar desde cedo, então martelávamos o dedo, construindo nossos próprios brinquedos.
Qualquer lata virava roda de marmelada; carretéis e um pedaço de tábua cortada a canivete davam tiros de parabélum. Mangas verdes espetadas, a título de pernas, mugiam no curral. E assim reconstruíamos a realidade dos adultos, aprendendo a sê-lo.
E fazer a roda de madeira, como carro-de-boi, era o maior sacrifício, só com serra tico-tico. Moleque, dono de uma serra assim, era o rei do pedaço. Recordar é viver, mas viver não é só recordar.
Recentemente, tive a oportunidade de ver o Consinha, meu neto, brincar de caminhãozinho com os netos do Tito Damazo, Pedro e Paulo, que são chamados carinhosamente pelo avô de babacas.
- Você vai cair, seu babaca!
Chamo o meu neto de mala.
- Lá vem o malinha ...
Quem diria, éramos dois jovens rebeldes tão recentemente.
Era um caminhãozinho grande, onde cabiam dois netos de cada vez, feito por gente entendida. E a Menininha, a mãe do Consinha, puxava-os pelo quintal da mansão do casal Tito e Tânia. Não imaginava presenciar esse quadro, cheio de lirismo, na década de 70.
Quem brincou de caminhãozinho mesmo fui eu, quando fui buscar a mudança de Menininha em Salto-SP, ida e volta, em pleno domingo. Nunca havia viajado tanto numa cabine de caminhão.
O barulho do motor era muito mais forte que o ronco que saía de minha garganta na infância, quando raspava a goela para fazer: vvvvrrrrrãããããooooo!
Mais uma vez descobri que a vida devia ser mais lúdica, mais sorridente, sem a hipócrita seriedade, porque, senão, o sonho será sempre mais doce do que a realidade. E não precisa ser assim. A realidade também pode ter o gosto de sonho de valsa.
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