AGENDA CULTURAL

9.12.07

O passado comove


Hélio Consolaro

Ao perceber que um fato me emociona, sei que esse mesmo sentimento será do leitor se me atrevo a escrevê-lo. Talvez seja a bendita simbiose que se dá entre cronista leitor.

Nesta semana, recebo e-mail de uma jovem. Dizia ela que sua mãe sempre falava em meu nome, como exemplo de gente e de profissional (tenho consciência de que não sou tudo isso). E de repente, fazendo cursinho em São Paulo, a jovem ouve o seu professor dizer o meu nome, recomendando que os alunos consultassem o site Por Trás das Letras, do qual sou coordenador. E ela, me conhecendo por sua mãe, disse que ficou tão orgulhosa de mim. E assim se encorajou em me mandar a mensagem. E no final dela, num PS, escreveu o nome da mãe dela. Talvez, num ímpeto de última hora.

Agradeci as palavras elogiosas a meu respeito, ouvidas, com certeza de sua mãe. Não vou revelar o nome de ambas, direi o milagre, mas omitirei a santa. De fato, como disse, nos conhecemos nos tempos de faculdade, em Penápolis.

Quando vi o nome da mãe, me veio todo o meu passado. Então eu quis contar mais àquela jovem. E lhe escrevi: “Não sei se posso confessar isso a você, mas sempre é bom saber que pais e avós não nasceram grandes (e nem velhos), passaram por experiências semelhantes às suas. Eu e sua mãe fomos namoradinhos nos tempos da faculdade, quando namorar tinha um sentido mais conservador.”

Como a jovem me dá muita importância, achou que eu nem fosse responder a seu e-mail, ela ficou toda entusiasmada, mas não tocou no assunto do namoro na segunda mensagem, como se já soubesse do fato. E confessou que sua mãe falecera há três anos.

Confesso, caro leitor, que fiquei parado defronte ao computador. Tive um sentimento paternal em relação àquela jovem, como querendo confortá-la, dizer aqueles chavões do momento, mas tão necessários nas horas de tristeza, quando se perde uma pessoa querida.

O e-mail, a notícia, a morte me tomaram o coração e o cérebro nestes dias. Se a mãe dela estivesse viva, tudo não passaria de sorrisos e brincadeiras, mas como houve morte, filosofar se tornou necessário. Mais uma vez, confirmou-se a máxima: o fim existe para explicar o começo.

Com o fato de a mãe falar bem do ex-namorado à filha, tive a certeza de que sou bem amado por minha mãe. E me vieram as palavras do cronista, por excelência, Rubem Braga: “O que há de horrível no amor é que, muitas vezes depois que ele acaba, dá a impressão de que não devia ter começado e, pior ainda, de que não houve”.

O cronista é sábio, mas suas palavras não valem para todos. Talvez, para os homens.

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