AGENDA CULTURAL

13.4.12

Lábios travessos


Hélio Consolaro

Sexta-feira 13, 13 de abril, Dia do Beijo. Olha o cão na casa do terço. E a gente precisa de dia para beijar? Existe até o regime do beijo. Em vez de comer na hora da fome, beija-se. Nesse caso, precisa ter estômago, porque nem todas as bocas merecem beijos. Ou merecem?

Em versos de Manuel Bandeira, o eu-lírico pede a boca da menina de verde para matar a sua sede. Eles arrancam risos numa sala de aula de adolescentes, quando dou o jogral do poema “Trem de Ferro”.

Os jovenzinhos que são classificados por alguns adultos de geração perdida, devassa, encontram frescor nestes versos recitados em grupo: “Menina bonita/ Do vestido verde/ Me dá tua boca/ Pra matá minha sede”.

Não sei se eles nunca beijaram ou se o poeta é mesmo bom. Ambas as coisas, pois encontro a mesma reação por muitos anos de magistério.

Talvez o ato de beijar tenha surgido quando ainda éramos gorilas, mas o que importa é que não me esqueci de meu primeiro beijo que dei numa prima (ou ela me deu, pois era mais velha), pois na minha juventude a gente treinava beijar e namorar com as primas: as parentas. 

Explicar bem, porque “primas” são também as mulheres da vida, que davam alegria aos maridos das outras, mulheres da morte.

Mas há quem condene, ainda, o beijo: “Uma coisa nojenta, a salvação das superbactérias em gargantas não acostumadas com antibióticos, mas que as recebem de outras pessoas”. São as pessoas racionais, científicas, sem graça.

Manuel Bandeira, dono dos belos versos acima, possivelmente nunca beijara, desde rapazinho descobriu que era tuberculoso. Morre hoje, morre amanhã, viveu até os 82 anos, certamente sem beijar ninguém.

O beijo é um botão, por ele esquenta-se a chapa debaixo. Já esquentei muita chapa nos portões das casas das namoradinhas, mas nunca conseguia fritar os ovos. Sem carro ou moto, e sem motel, ficava difícil.

As mulheres fecham os olhos na hora do beijo; os homens, nem sempre. O escultor francês Auguste Rodin, de tantos delírios amorosos que viveu com Camille Claudel, imortalizou o beijo em uma de suas mais famosas estátuas, "O Beijo".

O beijo cinematográfico mais bonito foi protagonizado por Burt Lancaster e Beborah Kerr , em 1953, no filme “A um Passo da Eternidade”. O beijo ardente numa praia do Havaí arrancou suspiros dos mais apaixonados.

Atualmente, os lábios andam mais travessos. Fazem o outro gritar sem sentir dor. Bill Clinton e Mônica Leminsky que o digam.

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