AGENDA CULTURAL

4.5.08

Não está no shopping


Hélio Consolaro

Confesso, caro leitor, que tive inveja do padre Paulo Roberto Lupfieri, de Araçatuba, quando soube que ele curte um ano sabático na Abadia de Scourmont, na Bélgica. Nada resolve invejá-lo e não organizar a vida para ter tais momentos.

Sair, se isolar, repensar tudo. Sair da correria. O Dia do Senhor é na verdade o nosso dia, aquele de nos reencontrarmos, cultivar a interioridade. Não é aquela obrigatoriedade de ir ao templo e nem de ficar trabalhando na igreja o domingo todo. É o dia de coçar o dedão do pé, numa rede, olhando para o céu, se integrar ao cosmos.

Deixamo-nos contaminar pelo capitalismo desenfreado que nos rouba o tempo, dizendo que ‘tempo é dinheiro”, fazendo-nos visitar o templo do consumo, o shopping center em pleno domingo, quando devíamos inverter isso em “dinheiro é tempo”, ter uma vida de simplicidade voluntária. Sem ser bicho grilo, nem avesso a tecnologias, sem aquela de isolar-se numa ilha, mas não ser um consumista inveterado.

A revista Vida Simples, mensal, é uma boa opção de leitura para quem pretende abraçar esse estilo de vida. Assim, apenas fazemos o período sabático mais longo num quarto de hospital. Outra leitura interessante para quem gosta do tema é o livro, do filósofo Michael Ende, “Momo e o senhor do tempo”, editora Marins Fones.

Este croniqueiro gosta das férias, mas há períodos em que parece um louco, fazendo tudo ao mesmo tempo, mas não é para ganhar dinheiro, é para viver intensamente, mas não deixa de ser um workaholic cheio de desculpas para dar.

Não cheguei, ainda, ao ponto da foto. No banheiro, faço palavras cruzadas.

O viciado em trabalho não tem quarto, tem escritório. Os amigos são tratados como contatos. A vida ganha outro nome: carreira.

Um viciado em trabalho não sonha, tem projetos! Não faz encontros, só reuniões. Não toma cerveja, apenas decisões. Na hora do sexo, descarrega estresse. Um cara assim não navega na internet, faz pesquisas. Para ele não há domingo, só horas extras. Veio ao mundo a trabalho.

Meus 33 leitores não se encaixam nesse perfil, por que um workaholic não lê crônicas num jornal, apenas as páginas sobre economia.

Nenhum comentário: