AGENDA CULTURAL

8.8.08

Pequim ou Beijing?


Hélio Consolaro

Agosto, mês de olimpíada na China: Pequim. Como no logotipo do evento consta Beijing, muita gente se pergunta: sempre pronunciamos erroneamente o nome da capital chinesa? O professor Cláudio Moreno apresentou os motivos disso em seu site: http://www.sualingua.com.br

Os chineses da capital vivem em Pequim. Nossos antepassados lusitanos entraram na China no século 16, por isso herdamos deles uma língua que conhece o nome Pequim há 500 anos. Naquele início, havia também algumas divergências quanto à sua pronúncia. Fernão Mendes Pinto, o escritor-viajante, fala, no capítulo 105 da Peregrinação, desta "cidade que nós chamamos Paquim, a quem os seus naturais chamam Pequim".

Portugal manteve intenso intercâmbio com a China, enviando embaixadores, missionários, aventureiros, comerciantes e militares ao império dos "chins", como diziam, acabando por estabelecer uma base em Macau, até recentemente sob domínio ocidental. Por tudo isso, nosso idioma se acostumou a nomes como Pequim, Cantão e Nanquim, além de suas derivações. Falamos da cozinha cantonesa, da tinta nanquim, do cachorro pequinês (aquele peludo cãozinho doméstico de focinho achatado).

O governo da China, pretendendo uniformizar as transliterações que o Ocidente faz de seus nomes, desenvolveu e divulgou o sistema “pinyin”, que regula a transcrição fonética da língua chinesa para o alfabeto romano. É útil e necessária a iniciativa das autoridades chinesas; a adoção desse sistema muda a grafia do presidente Mao (Mao Tse-Tung, Mao Tsetung, agora Mao Zedong) ou de Chiang Kai-shek (Chang Kai-chek, Tchang Kai Chek, parece que agora Jiang Jieshi).

Isso não significa, porém, que vamos abandonar os nomes já enraizados em nosso léxico. Para entender isso, basta comparar o nome tradicional com a nova versão pinyin: Cantão – Guangzhou / Xangai – Shanghai / Pequim – Beijing / Nanquim – Nanjing / Hong-Kong – Xianggang. Não houve uma "troca de nome", como a do Sião para Tailândia, ou de São Petersburgo para Leningrado, e de Leningrado de novo para São Petersburgo - casos em que existe uma pressão natural que nos leva a adotar a nova denominação. Houve apenas uma troca de sistema de transcrição, o que termina sendo pouca coisa além de uma troca na grafia já que a pronúncia é variável nas diferentes regiões da vasta China continental.

É sabido que as leis ortográficas de um país não costumam ter repercussão nas outras línguas. Quando nós oficializamos a grafia Brasil, os países de língua inglesa continuaram a usar Brazil, a forma consagrada durante nosso regime imperial, enquanto a França sempre usou alegremente o seu Brésil. Por isso, mesmo que um bilhão de chineses não concordem, devemos manter o Pequim do Português, da mesma forma que se mantiveram Pékin (francês.), Pechino (italiano.), Pekín (espanhol) e Peking (alemão). Só os jornais de língua inglesa se apressaram em aderir à novidade. Segundo Cláudio Moreno, em nome da globalização, a imprensa brasileira poderia adotar o hábito educativo de incluir, entre parênteses, o nome reformulado: Pequim (Beijing).

2 comentários:

Anônimo disse...

O importante é se fazer entender, seja em língua ou lugar que for.
E aí é que está o valor da boa comunicação...

Anônimo disse...

Geraldo de Caicó
Isso é que é chamar-se globalização, de maneira que todas as línguas possam compreender esse valor fonético que soa melhor aos nossos ouvidos.Lembrei-me da palavra cipango, dado antes ao Japão.Muito grato.