AGENDA CULTURAL

4.7.09

Seria o imperador


Hélio Consolaro

Não foi por medo de avião, embora tenha caído muitos por aí. Não fui. Afinal, é chique morrer em acidente aéreo, dá status. Pois é, caro leitor, a estratificação social se manifesta no velório, no cemitério e nas homenagens póstumas. Duro mesmo é ser esmagado entre as ferragens de um ônibus, um caminhão ou um carro mil nas rodovias da vida, pobre e no anonimato. Nem sair na seção policial.
Fiquei com medo de enfrentar o terrorismo da mídia, nadar contra a maré, pondo em risco meu único bem, que ponho a serviço da mais valia: meu corpo. Ele me dá suporte à minha existência.
Em conversa com um médico, ele me disse que o percentual de morte por causa da gripe suína é o mesmo da gripe corintiana (a comum). Como a plebe ignara é facilmente teleguiada pelos corintianos, a notícia ficou mais falada que a morte do Michel Jackson.

Não fui à Argentina. Valentia tem limites. Se enfrentar a gripe suína já é temerário para um palmeirense, que tem familiaridade com os chiqueiros, fazer isso aos 60 anos me deu calafrio. Quando o ministro da Saúde aconselhou pela tevê que as pessoas sexagenárias não deviam viajar, aquilo foi minha tábua de salvação.

Passei logo e-mail aos companheiros argentinos (afinal, caro leitor, nem todos são nojentos como o Maradona), dizendo que o nosso ministro disse isso, disse aquilo. E concluí: “Desisto de participar da Semana de Estudos Linguísticos – Português Língua Estrangeira - do Instituto de Enseñanza Superior en Lenguas Vivas ‘Juan Ramón Fernández”’
Assim, cada pessoa que ia compor a mesa, como convidados, foi desistindo: Marcos Bagno, Mário Alberto Perini, Carlos Alberto Faraco, este croniqueiro e outros. Foi assim que o medo da gripe suína impediu que professores de Português, argentinos, discutissem seus problemas do cotidiano escolar.

Como a Argentina recebe cada vez mais a influência da economia brasileira, o ensino do português cresce por lá.
O professor de língua estrangeira é também um transmissor dos valores culturais do país que fala aquela língua.

Temos por aqui a experiência com o inglês. Comemora-se o Dia das Bruxas (Halloween) em 31 de outubro, porque os professores de Inglês insistem nisso. Assim, o professor de língua estrangeira involuntariamente passa a ser um agente cultural da língua que ensina.

Assim, este professor de Português ia falar o nosso idioma para uma platéia argentina que teria o dever de me entender. Seria o imperador.

3 comentários:

Escrevendo na Pele disse...

Penso que você é um sujeito esperto, inteligente, safo e coisa e tal... (afinal, macaco velho não põe a mão em cumbuca, né? rsrs). Esse gripe tá deixando muita gente de cabelo em pé, mas... cá pra nós, essa palestra com o "imperador" arrasaria!! Beijos daqui.

Escrevendo na Pele disse...

Te adicionei aos meus favoritos, moço bonito!

HAMILTON BRITO... disse...

o MOÇO BON...QUER DIZER, PROFESSOR, LASTIMO QUE TENHAS PERDIDO A OPORTUNIDADE...AQUELE VINHO COM AQUELE TANGO E AQUELA...AQUELA CARNE ARGENTINA (PENSOU O QUÊ?) ...JUDIEIRA!!!