AGENDA CULTURAL

15.10.12

Todos somos professores


Hélio Consolaro

Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens do futuro. Dom Pedro II (1825-1891).

Quem não é professor? Sempre estamos ensinando algo a alguém, até involuntariamente. A educação não se restringe aos bancos escolares e nem está circunscrita à espécie humana. Os animais, aqueles que chamamos de irracionais, também aprendem e ensinam e não são portadores de diplomas.
Quantos professores cumpriram e cumprem sua tarefa de ensinar em sala de aula anonimamente. A mocinha adentra os portais da escola e sai deles sem ser percebida, apenas por suas amigas, alunos e ex-alunos e sua família. A grande mídia não noticiou nada sobre ela, nem sua formatura, casamento, aposentadoria. Contentou-se em ser um tijolinho da construção, não teve a pretensão de ser o telhado.
Na minha casa, tenho uma professora anônima, trabalhou muito, se aposentou: a Shizuko Nagai Consolaro, batizada como Helena pelo padre, e de Japa por este croniqueiro. A sua especialidade era a 2.ª série. Preparava diariamente suas aulas, punha seu avental, suas caixas com os materiais didáticos e saía para o trabalho, como faz minha filha, Hélen, sendo professora de Português.
Rubem Alves disse que as pessoas ensinam aquilo que não sabem, porque ensinar não está restrito a letras e números, mas também é apontar caminhos. Quantos analfabetos são verdadeiros sábios... Às vezes, a vovó, o vovô, com toda a ignorância livresca, passam-nos bons conselhos. Uma pessoa pode não saber o sentido de uma palavra, mas pode passar às mãos da outra um dicionário, ou a Bíblia, dizendo:
- Procure aqui que vai encontrar.
Houve tempo em que as famílias mais abastadas contratavam um professor para educar seus filhos nas letras e nos números, em casa mesmo. Essa pessoa não era formada em faculdade, apenas sabia ler e escrever, gostava de leituras. Outras vezes, o bom patrão estendia esse benefício aos filhos dos empregados, então, construía uma escola na fazenda e mantinha-a, pagando, inclusive, o professor.
Quando se formalizou a profissão de professor, com cursos normais, faculdades, a professora sem formação específica passou a ser chamada de leiga, ou seja, não havia estudado para o exercício do magistério. Dizem que ainda há muitas delas lá pelo Norte e Nordeste do Brasil.
E assim, no tempo da onça, havia o rábula (advogado sem diploma) , o prático (dentista), a parteira, o farmacêutico (substituíam o médico) etc. Era um mundo improvisado, tudo por fazer. Quem tinha um olho era rei.
A mãe deste croniqueiro, Augusta Fortin Consolaro, que estudou em escola rural no bairro Cafezópolis, em Araçatuba-SP, daquelas em que havia uma fila de carteira para cada série, indo até a 3.ª (a 4.ª série, só no Colégio N.S. Aparecida) se arvorou em alfabetizadora e por ela este croniqueiro aprendeu as primeiras letras. Quando cheguei ao G.E. Francisca Arruda Fernandes, já soletrava jornais em que embrulhavam mercadorias na Casa Egashira ou no Empório Aviação.
Na pessoa de minha mãe, Dona Augusta, homenageio todos os professores leigos, aqueles que ensinam sendo mães, pais, avós, membros da sociedade. Na de Helena, todos os professores anônimos que novamente foram esquecidos, não aparecem nas páginas deste livro, mas que exerceram o magistério com dignidade.

4 comentários:

Rita Lavoyer disse...

Texto lindo! Parabéns à dona Helena. Creio, deve ter sido uma ótima professora, como foi boa mãe e também uma avó super dedicada. Parabéns à esta família de mestres.

Patrícia Bracale disse...

Não é à toa que o Yuri é maravilhoso...com tantos mestres como disse a Rita.
Parabéns a todos que transformam pessoas e apreendem o que ensinam.

HAMILTON BRITO... disse...

Quem, elogiar esta família ,e sobretudo o caro mestre, não há de.

Anônimo disse...

Parabéns, D. Augusta, Helena, Helen e Hélio!

Feliz Dia!

Wanilda Borghi