Hélio Consolaro
Às vezes, viajamos quilômetros para ver belíssimas paisagens, nem nos damos conta de que elas fazem parte de nosso cotidiano. Ficamos preocupados com o saldo vermelho no banco, com o pagamento de nossas contas e nem levantamos os olhos para ver o céu estrelado.
Na tarde de quarta-feira, 9/12/2009, o chefe de serviço de museu da Secretaria da Cultura de Araçatuba, Carlos Paupitz, promoveu o segundo café dos Amigos do Museu Histórico Pedagógico Marechal Cândido Rondon de Araçatuba. Um grupo que resolveu apoiar aquele lugar que é o depositário da memória de Araçatuba.
Na linguagem romântica, foi uma tarde fagueira. O cenário árcade, com um bucolismo singular, formava uma imagem poética. Com olhos de estranhamento, este croniqueiro via a beleza visual de cada ângulo.
Devido à chuva fina, algumas acomodações no uso do espaço foram necessárias. O teclado divinamente dedilhado por Rosângela Souza Lima Almeida da sacada dos fundos, debaixo da figueira, naquele prédio antigo, dava o tom colonial do cenário.
Enquanto o coral da Apeoesp (sindicato dos professores) entoava músicas natalinas, as maritacas na figueira gritavam desafinadas como se quisessem acompanhar a cantoria. Para quem curte o passado, aquela paisagem não era diferente, nem menos linda.
Aquela figueira centenária testemunhou o crescimento de Araçatuba e ficou cada vez mais solitária. Talvez seja o único abrigo das maritacas nessa cidade devastada. Com luzes à noite, o prédio do museu é um verdadeiro cartão postal da cidade.
Como disse Carlos Paupitz no café de quarta-feira à tarde, o Museu Histórico e Pedagógico Cândido Rondon não é depósito de objetos antigos. O objeto precisa ter participado de um fato histórico e deve ter como propósito a educação de futuras gerações. Certo dia, uma senhora quis doar uma máquina de calcular bem antiga, mas o museu já tem 16 exemplares dela. Para que pegar mais uma, pois há falta de espaço no museu.
A casa ao lado, onde está a Renda Cidadã, da Secretaria de Ação Social, precisa ser desocupada para abrigar a seção temática sobre os ferroviários, trabalhadores pioneiros na construção de Araçatuba.
Museu não é apenas lugar de guardar coisas velhas (material), estamos preocupados em preservar também a memória de Araçatuba. E memória é feita de folias de reis, de cultura tropeira, de dança da catira, de festas juninas (imaterial). Essa rica cultura caipira.
Caro jovem, seja amigo do museu. Valorize seus antepassados. Essa tarefa não é apenas do poder público. Faça como o Sindicato Rural da Alta Noroeste e o Sr. Kunivo Takahashi que reservaram dependências de seus prédios para constituir museus particulares. Construamos belas paisagens na cidade onde moramos. Não podemos apenas contar buracos no asfalto, precisamos também contar estrelas.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.
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