Hélio Consolaro
Nos festejos de fim de ano, houve uma avalanche de torpedos nos celulares, com mensagens otimistas e desejos mil. Não me queixo, afinal, seria ruim mesmo se eu não recebesse nem “spam” por e-mail. Abandono total. Fazer o jogo do contente de Pollyanna de vez em quando nos faz bem.
Não é possível discutir filosofia via torpedo, pois as mensagens necessitam ser breves e conceituar exige espaço, então, li a mensagem: “...que em 2010 possamos mudar o mundo”. Não resisti, perdi tempo digitando uma ponderação: “Não pretendo mudar o mundo, apenas viver meus dias, não sou tão pretensioso”.
Então, caro leitor. Na minha juventude, quando era meio besta, eu pretendia mudar o mundo, eu me achava maior que ele, mas aconteceu mesmo ao contrário, o mundo é que me mudou. Descobri que sou bem pequeno, que apenas posso sonhar em me mudar, que já é uma tarefa homérica. A família se muda pra dentro de nós com todos os preconceitos.
O idealista (parente próximo do romântico) quer que as coisas, os outros se encaixem no seu modelo de mundo. Quando isso não acontece, viram verdadeiros resmungões, saudosistas, fala só em “resgatar”, como se o passado tivera sido uma maravilha.
O idealista, quando pega um cargo de chefia, vira caca. Ele quer que todos se subordinem a seu modelo, não há espaço para a diversidade. Os grandes ditadores do mundo, de direita ou de esquerda, eram idealistas. Fizeram grandes desgraças em nome de seus ideais.
Às vezes, as pessoas, principalmente os mais velhos, perdem o compasso da marcha do tempo, se desatualizam, e viram verdadeiros poços de amargura e pessimismo: “Quero o meu queijo!”. Em 1993, em relação ao magistério, quase caí nessa esparrela. Com a nova pedagogia, me senti ultrapassado e já ia cair na frustração, quando apareceu um anjo bom e me puxou do fundo do poço. Estudei as novas propostas e me convenci de que eram melhores que as antigas, revigorei meu magistério.
A música de Tião Carreiro “A vaca foi pro brejo” demonstra isso, um pai desatualizado, autoritário, que não entendeu a mudança: “Mundo velho está perdido / Já não endireita mais”. É aquele cara que fica dizendo por aí que o mundo está perdido, querendo apenas mudar os outros.
Sei, caro leitor, que chegou até o fim deste texto, portanto, não é um ranzinza, um moralista carcomido, está de bem com a vida, mesmo que ela esteja lhe aprontando algumas. Não faço a apologia da alegria a qualquer custo, afinal a tristeza e o sofrimento são viajantes da mesma estrada. Basta saber enfrentá-los.
Se você curte algum descontentamento com o mundo, mude a si mesmo.
5 comentários:
Caro Hélio, seus textos são fantásticos e você é uma das grandes inteligências de nossa querida cidade. Peço sua autorização para colocar seus escritos, vez ou outra, em meu blog 'atriomental.blogspot.com'. Você permitiria? Fale comigo (Dani): marchi.dani1973@gmail.com. Obrigada e um abençoado 2010! Daniela Marchi.
Pois é, Hélio. A vida é feita de mudanças e temos que fazer o papel-camaleão ou do contrário, se explode na roupagem velha e sebenta. Ou... viramos esses tais ditadores que pensam no seu umbigo e fazem o papel de Narciso, né? Oxalá nos ouça através desse texto ma-ra-vi-lho-so!
Como titulo do meu novo personagem
"Alegria da diversidade"
Feliz quem se apropria das cores e se faz luz!!!
Ação,
Movimente-se,
Brilhe.
Professor, não acha que uma flor com o 'talinho' virado pra cima combinaria mais com o texto. Hã?
Rita, permita=me o pitaco mas acho que como está,fica melhor.Dá a impressão que ela está solta no ar, bailando ao sabor da natureza. Se o texto fala em se libertar, não ter apego por amarras e se soltar pra ver no que vai dar, a folha solta me passa o espírito do texto. ..mas quem sou eu, né.mas fica ai oque penso. Feliz 2010 per tutti.
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