AGENDA CULTURAL

6.5.10

Proibir pulseirinhas

Hélio Consolaro*


Qualquer novidade que ganhe alarde na mídia, os
repressores de plantão e os caçadores de voto já propõem leis proibindo tudo. Câmaras Municipais e Assembléias Legislativas tentam proibir as pulseiras coloridas ou “pulseiras do sexo”.


Na década de 60, quando surgiram Beatles e Roberto Carlos, diretores proibiam o acesso de cabeludos à escola. Atualmente, há uma enxurrada de leis que proíbem tudo, mas são inoperantes, porque se fossem postas em prática, o poder público precisaria contratar um fiscal para cada habitante.


Famílias, pais, mães, responsáveis não têm moral para pôr ordem em suas próprias casas, querem que o poder público faça isso por eles. E isso não é característica de determinado nível econômico-cultural, porque a classe média perde mais o controle dos filhos do que as pessoas das classes populares.


Apesar de sessentão, este croniqueiro continua com o slogan de sua geração: “É proibido proibir”. Não acredito em autoritarismos e repressão. A repressão às drogas continua cada vez mais rigorosa, e o consumo delas cresce assustadoramente. E nossa burrice não consegue ver que precisa mudar o paradigma.


Como secretário da Cultura de Araçatuba, sempre sou abordado por velhinhos e velhinhas para que volte a banda municipal ao coreto da praça aos domingos. Só faltam me pedir a volta do “footing”.


Tais pessoas não conseguem ver, observar, captar que houve uma mudança radical no jeito de viver. Nos tempos idos, éramos donos de nosso ócio, hoje, há uma indústria disputando-o: a televisão, a internet, game, mp3, DVD, revistas, jornais, livros, rancho, bar, futebol, cinema. Até nossos clubes estão falidos.


Nossas famílias já não são as mesmas. A reunião familiar está cheia de ex-isso, ex-aquilo, meio-irmãos. Até o vovô arrumou outra vovó. Estamos no Dia das Mães, que já não se contentam com relações sexuais sem orgasmo, a posição papai-mamãe já não satisfaz mais. Filhos sabem quando a mãe vai se encontrar com o amante. E nós queremos proibir pulseirinhas...


A família não acabou, apenas muda a sua configuração. As crianças estão mais livres, por isso estão mais sabidas. Apesar disso, as famílias ainda são responsáveis pela educação dos filhos, não podemos deixar essa tarefa para a polícia.


E para terminar o desabafo de um velho que teima em não deixar o cérebro envelhecer, repito aqui um velho ditado: “Se crianças e jovens estão vazios, é porque, nós, adultos, não transbordamos”.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.

4 comentários:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Eu até acho que ser vazio é conditio sine qua non para usufruir as delícias desta fase da vida.Cebelão, calça boca de sino, topete a la Presley, bota a la Roy Roger e agora as pulseirinhas. Quando a gente vai se enchendo, deixando de ser vazio, a vida vira uma...como direi...eu estou voltando a ser vazio e estou me sentindo bem legalzão.

Samuel disse...

Ótimo texto, Hélio!! Muito bom. Concordo plenamente. Melhor texto seu que já li.

Patrícia Bracale disse...

Digo: As crianças de hoje já nascem sabendo...
Só que discernimento e disciplina são os pais que dão.
Nada melhor que educar agora,
do que tentar reeducar depois.
Trabalhar com o "não" e o "proibido" é díficil, mas necessário.

Gabi♥ disse...

:'( Será que vou ter que dizer "Adeus" para minhas pulseirinhas?