AGENDA CULTURAL

5.6.10

Cultura no plural: culturas

Hélio Consolaro*


Pode ser que alguém pense que direito à cultura é pôr livros na cesta básica do trabalhador, distribuir ingressos de teatro para todos ou proporcionar aulas de balé para a periferia. Isso também é dar acesso à cultura, mas o direito à cultura é muito mais amplo.


Direito à cultura, como afirma a ONU, é o poder público permitir a manifestação da pluralidade das culturas existentes no seio da sociedade, evitando marginalizações e exclusões de setores determinados como efeito da discriminação. Como escreveu Rafael Segóvia, mexicano, escritor e diretor de teatro: “Para algumas pessoas, a Cultura [com C maiúsculo] é algo que alguns têm e outros não, e que pode servir como unidade de medida para justificar distinções sociais”.


A cultura para a Unesco é o “conjunto de traços distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou grupo social. Ela engloba, além das artes e das letras, os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas de valores, as tradições e as crenças”. Ela faz parte da condição humana.


Numa sociedade, não temos apenas uma cultura, e dentre as culturas, uma não é melhor do que a outra, a diversidade é sua natureza. Não se trata de ser mais um vagão da composição chamada vida, a cultura nela é a locomotiva, e tendo como combustível a língua-mãe. Temos que garantir a diversidade cultural, nela está a raiz da democracia.


As várias culturas existentes na sociedade se interagem normalmente, mas essa interação pode ser feita em melhores condições com a participação do poder público. Um pequenino exemplo disso são as academias de dança, incluindo em seu repertório o rap. Outro exemplo também minúsculo: a abertura de três salas de balé na periferia de Araçatuba. A periferia se apropriando da cultura mais requintada, e os artistas mais intelectualizados descobrindo riquezas na arte popular.


Outro comportamento que as escolas podem adotar é a inclusão dos grupos de hip-hop como usuários de suas dependências, já que educação e cultura estão interligadas. Criar o sentimento de rejeição nas pessoas por causa da pobreza, da cor da pele ou do gênero só gera mais violência, porque num momento de êxtase provocado pelas drogas (incluindo o álcool), o vandalismo será uma flor viçosa.


Um amigo de Araraquara, vendo o blog da Secretaria Municipal da Cultura, me perguntou por e-mail como fazemos a convivência no palco do Culturaça, tendo grupos de música gospel se apresentando depois de grupos de música rap. Respondi-lhe que estamos tentando ainda mais construir em Araçatuba o respeito à diversidade. É um trabalho coletivo de todos nós na construção da paz. A violência será bem menor quando todos se sentirem incluídos.


Bibliografia: Diversidade Cultural – Globalização e culturas locais: dimensões, efeitos e perspectivas. Organização: Leonardo Brant. Instituto Pensarte, São Paulo, 2005.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.

8 comentários:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Evidentemente é possivel viver bem dentro de uma diversidade cultural, mormente quando a virtude da tolerância, aquela em sua melhor concepção, é exercida. Havendo convívio com respeito às particularidades de cada um, tudo fica mais facil. O que não se admite é que certas entidades que falam em cultura não a pratiquem, fiquem em cima dos seus tronos, distantes do povo, acho que para se manterem assépticos.

Sylvia Feitosa disse...

Estou maravilhada!

Hélio parabéns mesmo! amo esta terra! amo o trabalho de vcs em Araçatuba. peço permissão para postar sua máteria em meu blog, com o devido respeito ao autor da mesma.

Grande abraço

Sylvia Seny Feitosa

Patrícia Bracale disse...

Cultura é tudo,
E tudo vive na diversidade.
Qual a cor da sua mistura?

Ventura Picasso disse...

Muito bem Hélio:
Vc conseguiu o impossível. A secretaria sob a sua direção mudou a cara da cidade. O ritmo e a aqualidade dos eventos culturais, dentro do que é possível, nos surprenede e, sem dúvida, vc amigo, é de longe o secretário mais atuante e importante deste governo. Mas, não posso deixar de cobrar:
No Programa de Governo, na página 31, na metade do quarto parágrafo diz o seguinte:..."Mesmo assim, vamos criar novos espaços culturais, salas de teatro e cinema. Para isso vamos buscar apoio no governo Lula".
Até hoje eu não vi um movimento nassa direção. Levantar esse debate junto a sociedade é muito importante. Com tanta cultura que Araçatuba produz, falta-lhe um palco grandioso, para distribuir a todos os prazeres culturais.

Anônimo disse...

"Flor viçosa".
"Construção da Paz".
"Respeito à diversidade".

Texto pertinente.
Parabéns!

Abraço,

wanilda Borghi.

Hélio Consolaro disse...

Ao companheiro Ventura Picasso: quando penso nisso, coço a cabeça. Mas iremos avançar ao término do Teatro Castro Alves ainda neste ano.

Temos um projeto no MinC para restaurar o Centro Cultural Ferroviário em torno de R$ 3 milhões.O prefeito Cido Sério inclusive esteve lá en Brasília para dar um empurrão nele. Mas como é verba federal, só depois das eleições.

Temos a possibilidade de transformar o Mercado Municipal no polo local do Sesc com a construção de um teatro para 350 pessoas e uma academia de ginástica para atender a mil pessoas por dia. Estamos em negociação com o SESC.

Temos uma emenda parlamentar disponível para reformar a Biblioteca Municipal, inclusive ampliar o seu acervo. Isso só sairá depois sdas eleições, porque é emenda estadual do deputado estadual Vicente Cândido (PT).

Estamos criando o Museu dos Ferroviários. E vamos deixar a secretaria com um aparato jurídico, onde a participação e a cogestão estará garantida legalmente.
Se tudo der certo, a Secretaria da Cultura na atual reforma administrativa, ficará mais encorpada.
Não estamos parados. Mexer com construções precisa de muita grana.
Não estamos apenas, além de preocupados, ocupados com isso. Não queremos divulgar isso na imprensa antes de tudo estar consolidado.
Abraços
Hélio Consolaro

Ventura Picasso disse...

Cara!
Não precisa exagerar...
Só vc poderá lidar com esse
pacotão.
Eu acredito piamente que vc
chega lá.

Unknown disse...

Misture com a colher do povo o Rap. a Folia de Reis, a poesia, o figurino e todas as rimas do mundo com pitadas fartas de cores e assim dê visibilidade à sociedade.
Beijo
Angela