AGENDA CULTURAL

14.6.10

Bola ideológica


Hélio Consolaro*


Como demorou para o Brasil fazer o seu primeiro jogo na Copa do Mundo, pareceu que o certame andava e a pátria não participava. Comprei minha camisa e ainda não tivera o gosto de vesti-la. Ficar apenas vendo os outros jogarem não tem lá muita graça.
Os primeiros jogos da Copa do Mundo se pareciam muito com os jogos do Palmeiras ultimamente, quando era goleada, o resultado não passava de um a zero.
Parece que a seleção da África do Sul roubou nossa camisa. Negro assoprando vuvuzela, camisa verde-amarelo, os sul-africanos estão mais parecidos com brasileiros, corintianos, sim senhor.
Na copa de 1970, quando o Brasil vivia uma ditadura militar juntamente com um milagre econômico, não pude saborear essa sincronia de campeão do mundo e economia em expansão, porque eu, com minha vuvuzela, gritava por liberdade. Aquele selo nos carros, “Ame-o ou deixe-o”, me incomodava. Quando via um cidadão vestindo verde-amarelo, eu resmungava: alienado!
Hoje, com muita liberdade, o Tio Lula repete a façanha: economia indo bem, patriotismo exacerbado. O slogan agora é “Tenho orgulho de ser brasileiro, não desisto nunca”. E o Consa experimentando um naco de poder, como secretário da Cultura de Araçatuba, participando do sistema, como diria nas décadas de 60-70. Quando vejo um cidadão vestindo verde-amarelo, tenho vontade de chamá-lo de companheiro.
A população cresceu, duplicou, mas ideologicamente é a mesma, porque o coração do cidadão pulsa no bolso. Ele está a favor do governo que melhorou a sua vida. Para a massa, não há esquerda nem direita, há interesses e vantagens.
Apesar desse meu ceticismo crítico, a política brasileira avançou, quando se têm na disputa três candidatos, como: Dilma, Serra, Marina. Além de haver duas mulheres na disputa, temos duas pessoas que cerraram fileiras contra a ditadura militar (Dilma e Serra) e Marina, que nasceu da luta da organização popular. Os filhos e netos daquele pessoal que bateu continência para a falta de liberdade estão cada vez mais longe do poder.
Assim, o jogo ficou entre comadres e compadre. Embora eu afirme que algumas pessoas foram presas pelos militares por engano, porque no poder descobrimos que eles foram injustamente pichados de subversivos.
Brasil, Brasil! Não quero saber se ele vai ser desenvolvido nalgum dia (como era o sonho de minha geração). Por aqui a globalização começou muito antes. Quero ver a fraternidade, a inclusão, a alegria, mesmo que seja banguela. Os portugueses não foram tão burros assim.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.

2 comentários:

HAMILTON BRITO... disse...

"Para a massa, não há esquerda nem direita, há interesse e vantagem"
Uai! estranho. Interesse até que sim mas: quando levou vantagem. As duas coisas, concomitantemente e ao mesmo tempo rsss, são prerrogativas das elites, como já me instrirui o amigo Picasso.

Anônimo disse...

Resta saber se os ideais de desenvolvimento são banguelas de dentes decíduos ou definitivos. Se coisas boas virão por aí ou viveremos sempre a trocar dentaduras.