AGENDA CULTURAL

9.7.10

Corpo, alma e espírito


Hélio Consolaro*

Em mesa de bar, nem tudo está perdido. Alguns homens já levam as companheiras para os botequins com pouco mais conforto, assim tais espaços deixaram de ser antros de bêbados e devassos. A grandeza e a pequenez humanas se revelam em qualquer ambiente.
Um “habitué” do Espetinho 10, Araçatuba, meio alterado, me fez um desafio: “Professor, aborde em sua coluna, a diferença entre alma, espírito e corpo”.
Os verbetes “alma” e “espírito” ocupam espaços consideráveis nos dicionários diante da variedade de significados que apresentam tais palavras. Assim mesmo, para responder à indagação do leitor, não se pode ficar restrito a eles, exige pesquisa, pois o tema é complexo e polêmico.
A primeiro momento, parece que entre alma e espírito há pouco a distinguir, que a antítese está com o corpo. Nessa distinção, há além dos aspectos lingüísticos, os filosóficos e religiosos.
No Antigo Testamento, alma é traduzido do hebraico, “nephesh”, que em muitas outras passagens se traduz por “vida” ou criatura (ser vivo). A alma é apresentada como substância distinta do corpo, sede dos afetos, sensações e paixões, sendo suscetível de angústia, de aflição, de desânimo, de desejo, de aborrecimento, mas capaz de comunicação com Deus.
No Novo Testamento, o termo “alma” traz a tradução do grego “psyché”, com o mesmo dualismo entre corpo e alma.
A palavra “espírito” no Antigo Testamento é uma tradução do termo hebraico “ruach”, que também tem a sua significação literal de “vento”, sendo em muitas passagens traduzido por “sopro”, com aplicação ao ar respirado: “fôlego de vida”. Deste modo é naturalmente empregada a palavra acerca do princípio vital. No Novo Testamento, o espírito (pneuma ), como faculdade divinamente concedida, pela qual o homem pode pôr-se em comunhão com Deus. A Bíblia claramente faz supor a existência do espírito, separado do corpo depois da morte (transcendência).
Nesses dois casos, alma e espírito são palavras sinônimas, salvo algumas explicações de caráter didático e teológico. Quando entra o corpo, esbarramos em duas visões: a imanência e a transcendência.
O termo "imanência", próprio das religiões orientais, é normalmente entendido como uma força divina, ou o ser divino, que permeia todas as coisas que existem e é capaz de influenciá-las.
Isso implica que a divindade está inseparavelmente presente em todas as coisas (panteísmo). Tal teoria considera que não há transcendência (a existência de outra dimensão) , e que o processo da produção da vida está contida na própria vida. Alma e espírito é uma energia. O mundo (o externo) não tem nenhuma causa externa além da mente. A frase: “O Universo conspira a meu favor” revela uma concepção imanentista do mundo.
Em espaço tão curto, não foi possível aprofundamento, e a abordagem superficial pode banalizar conceitos. Fica a sugestão para que alguém mais preparado o faça.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

Um comentário:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

In illo tempore, dixit magister discipulis suis: o espírito de porco, filho, nao entra em nenhuma dessas definições.
E não é que o senhor fez mesmo; também, se nao faz , ele volta e ai, vai ser pracabá...