AGENDA CULTURAL

24.9.10

Fazer aniversário


Não é uma simples coincidência nas festas o aniversariante apagar velas;
e nos cemitérios, elas estarem também presentes 

Hélio Consolaro*

Quando se tem pouca idade, ficamos torcendo para que o tempo passe rápido, assim vários obstáculos serão removidos. Antigamente, a luta era atingir 14 anos para assistir a certos filmes; depois, para chegar aos 18 anos era uma lentidão.

A vida adulta nos impõe novas etapas. Formatura, emprego, casamento, primeiro filho. E a marcação, na vida de casado, vem com os filhos: batizado, escola, primeira comunhão, crisma (para os católicos). Enfim, cada tempo tem uma marcação.

Tenho um amigo que gosta tanto de casamento que já se casou pela quarta vez. Então, a vida social tem marcação diferente: filhos do primeiro casamento, no tempo em que vivia com a Gertrudes, quando minha sogra era a Madalena, aniversário do enteado, etc.

Recentemente, completei mais uma “era”, porque depois de certa idade, não se faz mais aniversários. Apenas, eras. “Eu era isso”, “Eu era aquilo” “Já fui bom nisso”. Sem desespero. Todos sabem que a juventude é bela, mas velhice, para quem desejou viver tanto, é necessária. Vamos nos despedindo da vida aos poucos.

Renasço todos os anos com a primavera, neste ano, o primeiro cumprimento veio de uma pessoa especial, o Carlos Paupitz, diretor do Departamento de Preservação Histórico Cultural e Artístico da Secretaria Municipal da Cultura de Araçatuba, resumindo: “Diretor de Museus”.

Como secretário da Cultura, trato as pessoas que ocupam cargos de direção de “insubordinados”, porque eles mais desobedecem. Erra quem achar que todas as suas ordens são obedecidas. Daí minha irreverência.

Então, o Carlos Paupitz, na afoiteza de ser o primeiro a cumprimentar o chefe pelo aniversário, me acordou quase na madrugada.
Depois dos cumprimentos, eu lhe disse:

– Não! Não podia ser você o primeiro! Estou mesmo ficando muito velho... O chefe dos museus está me querendo levar para a sua companhia!

Gargalhadas mil! Como sou meio Poliana, fiz logo o jogo do contente:

– Ainda bem que foi você! Já pensou se fosse o Cezarino Barbosa, chefe dos cemitérios? Entrando no campo santo na horizontal!

Quando se exerce cargo de chefia, lugar de destaque na sociedade, o aniversário é mais comemorado, mais lembrado. No anonimato, predomina o ostracismo, nem os parentes se lembram da data.

Depois do nascimento, a cada minuto estamos morrendo. Aliás, a cada aniversário comemorado, o caroço da morte que nasce conosco, cresce, até tomar todo o corpo. Então, conviver bem é a saída, o céu é construído aqui, sem causar problemas para os outros, ou, então, pense que viver bem é uma forma de acumular pontos para a outra vida.

Parabéns a todos.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.

2 comentários:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Mas o Heitor é boca maldita...meio Poliana? disse que ta mais pra Lurdinha hahahah

Silvana Antônia dos Santos Pauptz disse...

esse é o senhor meu marido...ele é do bem assim mesmo!!!