AGENDA CULTURAL

30.10.10

Imaculada

Hélio Consolaro*

O Festival de Teatro de Araçatuba foi muito concorrido. Houve peças para todos os gostos. Foram dez dias de muitas atividades, tanto na rua, em escadarias, no calçadão, como em barracão de escolas de samba. Um trabalho estafante de Alexandre Melinsky, Associata e toda equipe da Secretaria Municipal da Cultura de Araçatuba.

O teatro como todas as artes tem suas estéticas. Peças infantis (Circo de Quintal); obras literárias já consagradas (Igreja do Diabo, conto de Machado de Assis / A Obscena Senhora D, livro de Hilda Hilst); teatro do absurdo (Mal Secreto); comédia (O Anel de Magalão); escatológico (Justine). Houve gente que não perdeu nenhum dia. Cada fruidor com seu perfil foi escolhendo o seu gênero. Depois de encerrar suas atividades como cinema, nunca o Centro Cultural Thathi-COC lotou tanto. As cabines de Penápolis foram atração.


Os mais antigos de Araçatuba, como este croniqueiro, viram Marília Pera nua no palco do teatro Castro Alves, em Araçatuba, na década de 70. Todos contamos o maior papo à moçada a respeito disso. Se o encantamento dos antigos era a nudez, no sábado, 23 de outubro, isso foi superado.

O grupo Sátiros, de São Paulo, contratado pelo Sesc, veio até Araçatuba apresentar Justine, texto de Marquês de Sade, no Festival de Teatro de Araçatuba, versão 2010. Juntar o grupo com tal autor dá uma explosão.

Os Sátiros, em 1991 foi para a Europa, Portugal, porque não encontrava espaços nas casas paulistanas para apresentar seus espetáculos escatológicos, como “Sades ou Noites com os Professores Imorais”. Em 1994, voltaram ao Brasil e se instalaram em Curitiba. Hoje, estão em São Paulo novamente. Ver: http://satyros.uol.com.br/

Já Donatien Alphonse François de Sade, mais conhecido como Marquês de Sade (2/6/ 1740; 2/12/18l4 de dezembro de 1814) foi um aristocrata francês e escritor marcado pelo desprezo dos valores religiosos e morais. Muitas das suas obras foram escritas enquanto estava na prisão, encarcerado por causa de seus escritos e de seu comportamento. De seu nome surge o termo “sadismo”. Foi perseguido tanto pela monarquia como pelos revolucionários vitoriosos de 1789 e depois por Napoleão.

A peça “Justine” tinha 21 atores e atrizes. Todos ficaram nus por bons minutos. Além disso, simularam relações sexuais. Algumas pessoas abandonaram a sala, outros reclamaram para os organizadores na saída. O próprio Toninho do Vale, homem de teatro de São Paulo, em conversa com este croniqueiro, disse que não precisava abusar tanto do nudismo, “mas os Sátiros são assim mesmo”.

A escritora Emília Goulart, Araçatuba, que não é nenhuma menina, no final da peça, saiu com duas amigas mais velhas ainda. E uma delas disse:

- Fazia tempo que eu não via esses negócios...

- Que negócio, vó? - perguntou alguém.

- Homem pelado, ué! Matei a saudade...

Todos riram. Até que Emília chamou-as para irem embora:

- Vamos embora, Imaculada? (Era o nome da velhinha.)

- Como??? – perguntaram todos.

- É isso mesmo, confirmou a vovó, mas depois dessa peça, mudei de nome.

- Para qual? – perguntou Emília.

- Agora sou Maculada.

Só foram gargalhadas.

Quando o vinho é bom, o tempo o torna melhor ainda. Se o vinho for de má qualidade, com o envelhecimento, vira vinagre. As pessoas não são diferentes.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba. E-mail: conselio@gmail.com / Twitter: @helioconsolaro

2 comentários:

Patrícia Bracale disse...

Viemos de longe até este momento para nos descobrimos.
Queremos, pela arte que fazemos, saber quem somos.
De verdade, maquiamos o corpo para desnudarmos a alma.
O velho deve ceder o trono ao novo. É assim, e quem insistir em negar essa lei será trancafiado em um sarcófago, ou mesmo em uma antiga biblioteca para mera consulta no futuro.

Quem ensina?

Quem aprende?

Tudo se transforma.

Tudo se agrega.

Tudo, de certa forma, se converte em conhecimento.
Busca incessante por novas faces, novas expressões, novas PERSONAS!

Ser atemporalmente aquilo que não se é!
Amo as artes em geral pelas incertezas.
Amo o teatro em especifico pela sua discordância.
Simplesmente, discordo e ponto.
Deve ser convincente para mim, antes de ser ao outro.

Olho-me no espelho e finalmente, após todo sacrifício, vejo um estranho... E ele é para mim um mundo todo a ser descoberto.

Empolgo-me!

Saio da rotina que me leva apenas a morte.

Apenas fecho os olhos e mergulho em mim!

Isso é teatro.

João Luis Mendes Dias

Parabéns Araçatuba por mais um Festara e toda essa diversidade.

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

O velho deve ceder o trono ao novo o cacete. O novo que o conquiste como eu fiz...não que seja um tronão assssssimmmmm, mas é meu, viu sua "inchirida".