AGENDA CULTURAL

30.11.10

Na estrada da Água Limpa


Hélio Consolaro*

Água Limpa é um bairro rural de Araçatuba-SP, onde moraram meus avós paternos. Meu pai era um “italianinho da Água Limpa”; assim eram carinhosamente chamados os imigrantes no início do século 19 daquele setor do município.

Na Água Limpa, foram instalados os primeiros núcleos imigratórios: italianos e japoneses. Eles já tinham passado pela araraquarense, lá trabalharam no eito, como empregados. Em Araçatuba, compraram sítios de 17 alqueires, pagos a prestação. Na década de 30 e 40, depois do crash da bolsa de valores de New York, muitos se mudaram para o Norte do Paraná, foram construir o progresso de Londrina e Maringá.    

Toda vez que revisito Água Limpa me lembro das viagens que eu fazia do bairro Cafezópolis (outro bairro rural de Araçatuba), de meus avós maternos, durante as férias, até a Água Limpa. Pegar a jardineira no Bar Cruzeiro e andar 12 km era uma aventura de menino tabaréu do grupo escolar. Viagem grande, demorada.

O ônibus tinha uma escadaria para chegar ao bagageiro do teto, onde os sitiantes traziam mercadorias para vender na cidade e levavam suas compras para o sítio. Aliás, quando a lotação de passageiro ultrapassava o número de poltronas e o espaço do corredor, subir a escada da jardineira era uma forma de não ficar para trás.

No domingo, 28/11/2010, revisitei Água Limpa, participei como secretário da Cultura de uma reunião da secretaria de Participação Cidadã na EMEB  Fernando Gomes de Castro. Naveguei naquele asfalto maravilhoso, novinho, sem buracos. Bem diferente de 2009. O recapeamento foi um trabalho de parceria entre o município e o Estado de São Paulo. Se moradores do núcleo urbano reclamam do asfalto de nossas ruas, os de Água Limpa moram no céu.

Pensei comigo: “Dessa vez, a administração municipal de Araçatuba não vai receber reclamação ”. Ledo engano, lá estava um bêbado maldizendo a todos, porque não recebia bolsa-família. Mandado pela oposição? Sei lá.

Uma senhora reclamou de que acordou de manhã e encontrou um homem pelado dormindo em sua rede no alpendre, por isso pedia guarda municipal no bairro.  Assustou-se com o Adão em pessoa.

Apenas um senhor  me veio dizer sobre Folia de Reis. Falou tão baixinho, como se fosse pecado falar sobre cultura. Assim, voltei navegando naquele asfalto maravilhoso, meio frustrado.  

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.

Um comentário:

Ventura Picasso disse...

Eu pensava ser o último romântico...