Alerta! Quem acessou o Blog do Consa estava mais preparado para fazer a redação do vestibular da Unesp. Veja links:
http://blogdoconsa.blogspot.com/2010/11/grafiteiros-deram-licao.html
http://blogdoconsa.blogspot.com/2010/11/manifesto-pela-liberdade-de-expressao.html
http://ritalavoyer.blogspot.com/2010/11/grafite-um-objeto-de-estudo_22.html
INSTRUÇÃO: Releia o texto apresentado como base para as questões 29 a 32 e o texto que serviu de base às questões 35 e 36.
Manifestação surgiu em Nova York nos anos de 1970
Muitos encaram o grafite como uma mera intervenção no visual das cidades. Outros enxergam uma manifestação social. E há quem o associe com vandalismo, pichação... Mas um crescente público prefere contemplá-lo como uma instigante, provocadora e fenomenal linguagem artística.O grafite é uma forma de expressão social e artística que teve origem em Nova York, EUA, nos anos de 1970. O novaiorquino Jean-Michel Basquiat foi o primeiro grafiteiro a ser reconhecido como artista plástico, tendo sido amigo e colaborador do consagrado Andy Warhol — a vida de Basquiat, aliás, mereceu até filme,lançado em 1996.
A chegada ao Brasil também foi nos anos de 1970, na bagagem do artista etíope Alex Vallauri e se popularizou por aqui. Desde a década de 1990 é pura efervescência. Irreverente, a arte das ruas colocou à prova a
criatividade juvenil e deu uma chance bastante democrática de expressão, que conquistou, além dos espaços públicos, um lugar na cultura nacional. Uma arte alternativa, que saiu dos guetos para invadir regiões centrais
e privilegiadas em quase todo o Ocidente.
Hoje, à vista da sociedade e totalmente integrada ao cotidiano do cidadão brasileiro, a arte de rua provoca e, ao mesmo tempo, lembra a existência de minorias desfavorecidas e suas demandas por meio de coloridos desenhos que atraem a atenção.
Essa manifestação avançou no campo artístico e vem conquistando superfícies em ambientes até então improváveis: do interior de famosas galerias às fachadas externas de museus, como o Tate Modern, de Londres,
que em 2008 (maio a setembro) teve a famosa parede de tijolinhos transformada em monumentais painéis grafitados (25 metros) pelas mãos, sprays e talento de grafiteiros de vários lugares do planeta, convidados
para esse desafio, com destaque para os brasileiros Nunca e os artistas-irmãos Osgêmeos.
(Fotografe Melhor. Um show de cores se revela na arte dos grafites. São Paulo:
Editora Europa, ano 14, no 161, fevereiro 2010.)
http://www.fotolog.com.br/alessandrobender/54333399 (Não foi possível reproduzir a ilustração original da prova da Vunesp) |
Do vandalismo anárquico à arte politicamente comprometida
(...)
O transeunte (...) geralmente ignora, rechaça ou destrói essa arte, considerando-a sujeira, usurpação do seu direito a uma paisagem esterilizada, uma invasão do seu espaço (às vezes privado, às vezes público), uma
afronta à mente inteligente. Escolhe não olhá-la, não observá-la, não ler nas suas entrelinhas e nos espaços entre seus rabiscos ou entre seus traços elaborados. Confunde o graffiti com a pichação, isto é, a arte com o
vandalismo (...).
No entanto, em documentários e em entrevistas com vários artistas de rua em Curitiba em 2005 e 2006, pôde-se constatar que essa concepção é, na maioria dos casos, improcedente. Grande parte dos escritores de
graffiti e dos artistas envolvidos com o lambe-lambe não apenas estuda ou trabalha, mas tem rendimento bom ou ótimo na sua escola ou no seu emprego.
De acordo com a pesquisa ora em andamento, o artista de rua curitibano mora tanto na periferia quanto no centro, é oriundo tanto de famílias de baixa renda como de outras economicamente mais favorecidas. Seu nível de instrução varia do fundamental incompleto ao médio e ao superior, encontrando-se entre eles inclusive funcionários de órgãos culturais e educacionais da cidade, bem como profissionais liberais, arquitetos, publicitários, designers e artistas plásticos, entre outros. Pôde-se perceber, também, que suas preocupações
políticas, sua consciência quanto à ecologia e ao meio ambiente natural ou urbano, seu engajamento voluntário ou profissional em organizações educacionais e assistencialistas são uma constante.
(Elisabeth Seraphim Prosser. Compromisso e sociedade no graffiti, na pichação e no lambe-lambe em Curitiba (2004-2006).
Anais — Fórum de Pesquisa Científica em Arte. Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
Curitiba, 2006-2007.)
Trecho de uma entrevista com Omen, um conhecido grafiteiro residente da cidade de Montreal, no Canadá.
Interviewer: Who are you and what are you doing later today?Omen: Erm… I write OMEN and I don’t know what I am going to do today. The weather seems to be my
only enemy these days.
Interviewer: When’s the last time you painted?
Omen: I painted the other day at a school in Point St-Charles. Options 2 it’s called. It’s a school for children that need special guidance. Their lives have been messed up by drugs and guns and all that stuff. I was there to show them fundamentals of Graff like can control and what tips to use. It was pretty cool.
Interviewer: What’s your favorite medium?
Omen: Well, to paint with? I love aerosol. Love it. There is nothing more demanding and yet forgiving as far as mediums. The dry time, the size, the variety, the randomness, it’s all gold. I mean you can bust a huge
piece and then say, “nahhh.” and take it out in less than a minute and start again cuz it will already be dry. A real medium of the future.
Interviewer: What do you think is the importance of architecture in everyday life and does graffiti influence architecture in any way?
Omen: Architecture is an awesome field of study and it greatly influenced my life for many years. The reality of it is that it is an insulated discussion between architect and city and/or Private developer. The public rarely
has a say in matters. This is unfortunate because it is the public that will be forced to look at the unchanging
design of an architect for the duration of our lifetimes and if it is unappealing one; then that is a real tragedy.
(www.yveslaroche.com/en/news. Adaptado.)
PROPOSIÇÃO
Arte de rua, intervenção urbana, grafite, graffiti, pichação, lambe-lambe, são inúmeros os termos pelos quais é conhecida a atividade pictórica em muros, paredes e superfícies de prédios nas cidades do mundo inteiro. Muitas pessoas consideram tais trabalhos verdadeiros exemplos de arte plástica popular; outras afirmam que é puro vandalismo. Os autores ou escritores, por vezes, têm de dar explicações à polícia, quando flagrados desenhando ou pintando em superfícies de prédios públicos ou privados. Mas há quem os convide,tanto nas repartições públicas como nas empresas de todos os gêneros, a pintar painéis decorativos em edifícios. E não falta também quem já venha implantando cursos ou atividades complementares para alunos do
ensino fundamental e médio aprenderem a fazer grafites.
Com base neste comentário e levando em consideração, se achar conveniente, os textos apresentados para as questões de números 29 a 32, bem como o trecho da entrevista que serviu de base para as questões 35 e 36, escreva uma redação de gênero dissertativo, em prosa obediente à norma culta da Língua Portuguesa, sobre o tema:
GRAFITES: ENTRE O VANDALISMO E A ARTE
Análise da proposta
http://estaticog1.globo.com/2010/12/20/anglo/Redacao.pdf
Sem fugir ao modelo já consagrado, a Banca solicitou a elaboração de um texto dissertativo sobre um tema explícito, para o qual poderiam ser aproveitadas informações e opiniões de excertos subsidiários às questões da prova. Para orientar a discussão, a proposição apresentou o grafite sob a ótica dos que a consideram um trabalho de arte plástica popular e sob a dos que a veem como ato de vandalismo, de depredação.
Para discutir o tema Grafites: entre o vandalismo e a arte, poderiam ser levados em consideração a reportagem da revista Fotografe melhor e fragmentos do artigo de Elisabeth Prosser, professora e pesquisadora de
História da Arte e de Metodologia da Pesquisa Científica da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (base para questões de 29 a 32) e a entrevista, em inglês, com Omen, conhecido grafiteiro canadense (base das questões 35 e 36).
A reportagem destaca as diferentes visões sobre o grafite, avaliado ora como “mera intervenção no visual das cidades”, “manifestação social”, “provocadora e fenomenal linguagem artística”, ora como “vandalismo”. Muito além de oferecer informações como sua origem nos EUA e no Brasil e a sua presença em fachadas externas de museus como o Tate Modern, de Londres, o trecho traz reflexões importantes. Ele destaca o caráter democrático do grafite, expressão artística capaz de dar voz à criatividade dos jovens, sobretudo pertencentes a minorias desfavorecidas: por meio das tintas, eles expressam sua visão de mundo, demarcam sua existência, provocam discussão. Além disso, o texto confere ao grafite lugar de destaque no cenário da cultura nacional, haja vista que já está “totalmente integrado ao cotidiano do cidadão brasileiro”.
No segundo texto, a professora Elisabeth Seraphim Prosser analisa o grafite como um movimento de muitas faces, propósitos, praticado por diferentes grupos sociais: se, por um lado, ele é concebido para chocar,
sujar, agredir ou chamar a atenção, por outro serve como meio de manifestação política, engajada socialmente, com intenção de instigar o público e promover transformação social; se, por um lado, é o modo de expressão de artistas com pouca instrução, por outro o é de pessoas com ensino superior e ligadas ao universo das artes visuais. Sob a ótica do público, a professora destaca ser comum parcelas da sociedade ignorarem o grafite ou o avaliarem como “usurpação ao seu direito a uma paisagem esterilizada”.
Da entrevista com Omen, o candidato poderia explorar as reflexões sobre a validade do grafite como recurso didático para escolas lidarem com problemas sociais como violência e drogas ou sobre a arquitetura urbana, que ganha vivacidade e dinamismo por meio do trabalho de artistas populares como ele.
Encaminhamentos possíveis
Diante de um tema com pontos de vista antagônicos, o candidato poderia optar por um ou outro, ou ainda conciliar as duas concepções sobre o grafite. Além de reflexões próprias, formadas a partir da observação darealidade e do repertório cultural, uma argumentação sólida e de qualidade não prescindiria das contribuições oferecidas pelos textos subsidiários às questões. Entre as possibilidades de encaminhamento da discussão, destacamos as seguintes:
• Para defender a tese de que o grafite não passa de um ato de vandalismo, poderia ser levada em consideração a diferença estabelecida pela professora Elisabeth Seraphim Prosser entre graffiti e pichação. A depredação de espaços públicos e privados, sem consentimento, constitui afronta à ordem pública. Nesses casos, a polícia e o poder judiciário têm atuado sem considerar a hipótese de se tratar de manifestações artísticas.
Ainda que sirvam como forma de chamar a atenção da sociedade, pichações causam prejuízos financeiros e comprometem a estética dos cenários urbanos.
• Para sustentar a posição de que o grafite é uma linguagem artística, há inúmeros argumentos, nos textos: ele pode ser considerado uma manifestação social e democrática de expressão artística, bem como ato polí-
tico de denúncia e transformação das estruturas sociais. Seria possível também ressaltar o caráter popular do grafite, arte acessível a diferentes estratos sociais e menos elitista, por se fazer em fachadas públicas ou privadas. Outro argumento é a sua contribuição para a humanização da paisagem urbana, por meio da profusão de formas, cores e temas que substituem o frio, o cinza e o concreto urbanos.
• Seria possível também conciliar as duas teses, especificando em que circunstâncias o grafite é um ato de vandalismo, em que outras é arte. Para isso, ambas as reflexões anteriores poderiam ser equacionadas, desde
que se ressaltassem as diferenças entre uma e outra concepção.
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